O retorno do Stone Temple Pilots

Apesar de não ter popularidade semelhante à do Pearl Jam ou fãs devotos como os do Alice In Chains, o Stone Temple Pilots é uma das melhores bandas surgidas na onda do grunge, movimento musical que tem a cidade de Seattle, nos Estados Unidos, como espécie de marco-zero.

O STP, como também é conhecido, ganhou esse nome em 1990, apesar de o embrião da banda ter surgido anos antes, em 1986 (vide Wikipedia). Não obstante a “pré-origem”, digamos assim, 2010 é o ano em que o Stone Temple Pilots completa 20 anos de carreira.

Durante essas duas décadas, a banda conheceu o céu e o inferno. Os primeiros quatro discos do grupo (“Core”, “Purple”, “Tiny Music… Songs from the Vatican Gift Shop” e “No. 4”), cujas sonoridades são fiéis ao grunge – que, trocando em miúdos, seria o rock mais pesado, porém um pouco mais lento e abafado -, venderam milhões de cópias.

Mas com o passar do tempo o grunge foi perdendo força e “as bandas de Seattle” precisaram se adaptar aos novos tempos. Em 2001 o STP lançou o quinto álbum de estúdio, “Shangri-La Dee Da”, cujas músicas transitam entre o rock pesado com algum resquício do grunge (“Dumb love” e “Coma”), o pop-rock (as excelentes “Days of the week” e “Hollywood Bitch”), e as baladas (“Wonderful” e “Hello i’ts late”). A mudança não agradou aos fãs e “Shangri-La Dee Da” ficou como sendo o marco da separação da banda, que veio acontecer em 2002.

O “fim” do Stone Temple Pilots é ligado diretamente aos sucessivos problemas que o vocalista e letrista Scott Weiland teve com drogas, sendo ele inclusive preso por porte de heroína no fim da década de 1990. As aspas de “fim” se justificam por conta de os membros da banda terem voltado a tocar juntos em 2008, com Weiland aparentemente livre das drogas.

Esse retorno culminou no álbum “Stone Temple Pilots”, lançado em maio deste ano. (Na verdade, o disco não tem título, e, quando discos não têm título, geralmente eles são batizados com o nome da banda.)

“Stone Temple Pilots” é provavelmente um dos CDs de rock mais empolgantes e envolventes lançados nos últimos anos. Fazendo uma comparação – mas guardando as devidas proporções -, “Stone Temple Pilots” é um “Chinese Democracy” (álbum de retorno do Guns’N’Roses) sem a megalomania de Axl Rose. Não seria exagero dizer que Scott Weiland e companhia deram luz à um disco brilhante.

O novo trabalho segue o caminho das músicas mais pop de “Shangri-La Dee Da”, mas sem exageros e mantendo a pegada alternativa. Ele começa com a poderosa “Between the lines”, que não por acaso foi escolhida para ser o primeiro single do disco. Em seguida vem “Take a load off”, que remete aos anos de grunge, porém as guitarras são limpas e claras, apesar de pesadas – mas nem tanto. “Huckleberry crumble” e “Hickory dichotomy” têm uma pegada blueseira que faz toda a diferença nessas canções – dá até pra lembrar um pouco do bom e velho Aerosmith, uma das influências assumidas do Stone Temple Pilots na criação do novo disco.

“Dare if you dare” vem para acalmar um pouco os ânimos. Não é uma balada melosa, mas é o tipo de música para dar uma esfriada na plateia de um show de rock. Destaque para os versos politizados “What to do about third world nutrition/ Can we dismantle our stupid vision/ And get on with the show?”. “Cinnamon”, que vem logo a seguir, é descaradamente pop. É aquela música que você ouve uma vez e gruda na sua mente. A melodia é até um pouco boba ou ingênua, mas ainda assim é uma boa canção.

Os riffs de guitarra voltam à toda com “Hazy daze”, que, assim como a já citada “Take a load off”, conserva alguma coisa do grunge. Em “Bagman”, que vem a seguir, é possível ouvir um violão, ainda que discreto. A batida acústica não tem muita presença, mas é o tipo de detalhe que dá uma outra cara à canção. Destaque para os versos “I know it feels good/ but be careful with your vices/ falling, crawling on your knees again/ watch out for the bagman” (“eu sei que é bom/ mas tenha cuidado com seus vícios/ caindo, mergulhando de joelhos de novo/ cuidado com o cara da entrega”). “Bagman” ou “cara da entrega” pode ser uma alusão a uma pessoa que leva drogas a outra.Vindos de Scott Weiland, autor de todas as letras do disco, esses versos são um recado e tanto.

Completando as 12 músicas do álbum estão a excelente “Peacoat”; “Fast as i can”, a mais acelerada das canções e a única que destoa das outras; e duas baladas: as belas “First kiss on Mars” e “Maver”.

Não fosse por “Fast as i can”, “Stone Temple Pilots” seria um disco perfeito. Mas é como dizem: nada – ou apenas Deus, para os que nEle creem – é perfeito. Ao menos o Stone Temple Pilots chegou perto.

* Uma curiosidade: nas versões Deluxe e japonesa do disco, há uma canção chamada “Samba Nova“. Como o título dá a entender, ela tem influência da nossa bossa nova. É uma canção tranquila, calma, belíssima. O que não dá pra entender é por que a colocaram como “lado b” do disco.

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