You don’t have to die before you’re dead

Foto: Melanie Flood

Tenho um grande e inexplicável interesse por guerras, mais especificamente a 2ª Grande Guerra e determinados conflitos que aconteceram depois, como os do Líbano e o massacre que aconteceu em Ruanda, em 1994. Ao longo dos anos venho reunindo diversos títulos sobre esses assuntos. Não chego ao ponto de dizer que quero estudar e me tornar um especialista na área. É mais uma curiosidade exacerbada que uma fixação.

Na verdade, é uma consequência do 11 de setembro, o dia em que decidi que seria jornalista. (Conto esta história mês que vem.) De livro em livro acabei chegando ao “Pós-Guerra – Uma história da Europa desde 1945”, considerada uma das obras mais importantes do século XX.

O autor do volume é o historiador britânico Tony Judt, que morreu em sua casa em Manhattan, na última sexta-feira, dia 06 de agosto, em decorrência da esclerose lateral amiotrófica, doença degenerativa diagnosticada em 2008 e que o deixou sem movimentos do pescoço para baixo. Em janeiro deste ano Judt escreveu (melhor dizendo, ditou) um texto sobre a sua situação. Chama-se “Night” (“Noite”) e é um relato incrível e talvez até cruel sobre as limitações e consequências que a doença lhe impôs. Quem quiser ler o texto traduzido para o português de Portugal pode fazê-lo neste link.

Para variar, não li ainda “Pós-guerra”. Mas tento acompanhar os escritos de Judt desde 2008, quando comprei o livro. No mesmo mês, julho daquele ano, li um texto excepcional dele publicado na revista piauí. A identificação/admiração foi imediata.

Além de ser um intelectual lúcido e corajoso, como disse o jornalista Jorge Pontual no Twitter, Judt foi um exemplo de perseverança para o mundo. Mesmo doente e debilitado, continuou a escrever e mostrar sua indignação em face aos absurdos do nosso tempo. Em matéria publicada em março no The Independent, Judt diz “you don’t have to die before you’re dead” (numa tradução literal, “você não tem que morrer antes de estar morto”).

Recentemente foi publicado pela Objetiva uma coletânea de ensaios do autor: “Reflexões sobre um século esquecido – 1901-2000”. Apesar de ainda não tê-lo, torço para que uma outra obra sua, publicada nos EUA também há pouco tempo, seja logo traduzida por aqui. Trata-se de “Ill fares the land” que, segundo o tradutor e meu amigo Marcelo Barbão, “é uma construção arcaica que significa: ‘A terra sofre’, ‘A terra em sofrimento’, ‘O sofrimento da terra'”. Neste livro, há um texto simplesmente genial de Judt, chamado “A manifesto for a new politics” (“Um manifesto por uma nova política”, também em tradução literal). Publicado em março no The Guardian, o ensaio não está mais no site do jornal britânico mas pode ser lido na página do The New York Times. Quem, como eu, não tiver um bom inglês, pode ler com a ajuda de um dicionário ou mesmo do tradutor do Google. Vale a pena o esforço.

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