Lançado recentemente no Brasil direto em DVD, “Estão todos bem”, refilmagem do filme italiano “Stanno tutti bene” (1990), estreou nos cinemas dos Estados Unidos no início de dezembro de 2009, ou seja, no meio da avalanche de filmes natalinos. Talvez tenha sido esse o motivo da pouca repercussão que teve, apesar de ser Robert De Niro o protagonista.
De Niro interpreta Frank Goode, que, nas primeiras cenas do filme, com Perry Como – um brilhante cantor norte-americano que foi ofuscado por Frank Sinatra – interpretando a belíssima “Catch a falling star”, está fazendo tarefas domésticas, limpando a casa e cortando a grama do jardim. Ele está se preparando para receber seus quatro filhos em casa. Será a primeira vez, desde a morte da mãe, que eles retornam ao lar.
Mas quando Frank volta do supermercado, depois de comprar vinhos, carne e uma nova churrasqueira para recepcionar os filhos, ele fica sabendo que não receberá mais visita alguma. Cada um dos seus apresenta uma desculpa e prometem se reunir mais adiante. Sem paciência para esperar, Frank resolve viajar para visitá-los, mas sem avisá-los. Ele espera ser bem recebido e encontrar todos bem, mas não é exatamente isso que acontece.
A primeira visita seria a David (Austin Lysy), mas ele não está em casa. Amy (Kate Beckinsale), a segunda parada, está, mas não pode ficar com o pai por causa dos compromissos de trabalho – isso é o que ela diz. O mesmo acontece com Robert (Sam Rockwell), que Frank pensava ser um regente de orquestra, mas na verdade “apenas” toca um instrumento de percussão. Por fim, ele chega a Rosie (Drew Barrymore), a única que se dispõe a passar alguns dias com o pai, mas ele mesmo resolve voltar para casa mais cedo. Primeiro, porque precisa comprar remédios para o pulmão – seu médico, aliás, o havia proibido de viajar -; e segundo, porque a viagem não estava sendo do jeito que ele imaginou. Ele sentia que seus filhos estavam mentindo para ele.
Ainda no início do filme ficamos sabendo que Frank Goode tinha como profissão revestir com PVC fios utilizados por companhias telefônicas (foi esse trabalho, aliás, que prejudicou sua saúde). Ele se orgulha disso, porque de alguma maneira ajudou a conectar pessoas. Notícias, sejam elas boas ou más, atravessaram cidades por aqueles fios, Frank diz em certo momento. E enquanto ele está dentro de ônibus ou trens, indo de uma cidade a outra, seus filhos conversam por telefone. Nessas cenas, apenas postes e fios com belas paisagens ao fundo são mostradas. Ou seja: sem saber, Frank ajudou a erguer uma espécie de mundo paralelo no qual Robert, Amy e Rosie conversam sobre David, que está preso no México, e tentam esconder do pai o que está acontecendo, ao menos até que consigam resolver a situação.
“Estão todos bem” não é um filme sobre um homem que perde a esposa com a qual conviveu por tantos anos e tenta se readaptar, nem sobre um pai que deseja se aproximar um pouco mais dos filhos. É um filme sobre paternidade, sobre o que significa ser pai, na maioria das vezes. Filhos geralmente conversam mais com as mães, e são elas que mais dão apoio aos filhos, muitas vezes contra a vontade – ou mesmo sem o conhecimento – de seus maridos. Ser pai, portanto, seria desconhecer – ou melhor: não tomar conhecimento. Sobre isso, há uma cena muito significativa, na qual Rosie e Frank estão conversando e ela fala algo como: “Era mais fácil conversar com a mamãe, ela sabia nos ouvir. O senhor era melhor orador”. Ao que Frank tenta responder, com algum bom humor: “Ela sabia ouvir, eu sei falar, formávamos um bom time”. Mas não é bem assim. Pais e filhos sabem que não é bem assim.
Robert De Niro, como quase sempre, está perfeito. Sua atuação é precisa, ele tem um timing incrível. Talvez seja um dos poucos atores que conseguem provocar gargalhadas interpretando personagens “sérios” dentro de comédias, como nos filmes “Entrando numa fria” e “Máfia no divã”. “Estão todos bem” vale a pena pela história, mas vale ainda mais pela interpretação de De Niro. E também porque é um filme emocionante do início ao fim.
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Se “Estão todos bem” começa com Perry Como, ele termina com sir Paul McCartney, cantando a bela “(I want to) Come home”, canção feita especialmente para este filme.