* O texto seria publicado no site da Brasileiros, mas não consegui escrevê-lo e enviar a tempo para eles. Para que a cobertura ficasse sem uma espécie de “encerramento”, publico aqui no blog minhas impressões sobre o último dia do evento. No final do post estão os links para os textos sobre os outros dias do Fórum, publicados no site da Brasileiros.
O último dia do Fórum das Letras de Ouro Preto (02 de novembro) começou com a mesa: “O desafio de idealizar e executar um caderno de cultura”. Participaram dela Fabrício Marques (editor do Suplemento Literário de Minas Gerais entre 2004 e 2005), Jaime Prado Gouvêa (escritor e atual editor do SLMG) e Álvaro Costa e Silva (editor do caderno Ideias e Livros, do Jornal do Brasil). O assunto foi muito próximo do abordado em uma das mesas do dia anterior, com João Gabriel de Lima e Sylvia Colombo. A diferença ficou por conta de a literatura – e não o amplo campo do jornalismo cultural – ter sido o foco. Além de haver a presença de Jaime Prado Gouvêa, que participou do SLMG quando este ainda estava em seus primeiros anos (fundado em 1966 pelo escritor Murilo Rubião), e falou sobre o passado, o presente e o futuro do Suplemento.
Segundo alguns passarinhos que vieram a Ouro Preto participar do Fórum, Claudiney Ferreira, mediador da “Mesa Portugal Telecom: uma radiografia do nosso tempo”, a primeira na parte da tarde, com os escritores Gonçalo M. Tavares (português, autor de “Jerusalém” e “Aprender a rezar na era da técnica”, entre outros) e Teixeira Coelho (autor de “História natural da ditadura” e “A cultura e seu contrário”, entre outros), teria uma tarefa difícil: conseguir manter a conversa sob controle, pois o convidado brasileiro, a depender do assunto abordado, poderia demonstrar aborrecimento e mau humor.
Contrariando os comentários – que não foram maldosos, é bom deixar claro –, Coelho foi bastante tranquilo durante toda a mesa. Os autores leram trechos de suas obras e falaram sobre o fato de a literatura, por mais fantasiosa que seja, conseguir dar uma amostra dos temores e anseios da humanidade. Claudiney os questionou sobre o pessimismo que há nas obras ficcionais de ambos e os autores responderam de maneira pontual e concordante: livros otimistas não causam reações no leitor; já uma obra pessimista incomoda, faz o leitor refletir, o leva a tomar uma atitude, no sentido de tentar melhorar algo. E é esta a função da literatura, na visão de Coelho e Tavares.
Da última mesa do Fórum, “A biografia é uma janela para o ‘real’”, participaram o escritor Aleilton Fonseca (cujos últimos livros são os romances-homenagem “Nhô Guimarães” e “O pêndulo de Euclides”), e os historiadores Caio Boschi (autor de “Por que estudar História”, entre outros livros) e Mary del Priore (que recentemente publicou “Matar para não morrer”). O ponto alto da mesa foi quando Del Priore falou sobre a censura prévia que as biografias estão sofrendo no Brasil. Para ser publicado, seu último livro sofreu vários cortes, por exemplo. É uma situação nada animadora, para quem está pensando em escrever uma biografia – ou mesmo um trabalho acadêmico: a historiadora relatou o fato curioso e triste de uma estudante que precisou adiar a defesa de seu trabalho de conclusão de curso por causa da família do autor que ela estava pesquisando. Um absurdo. Aleilton Fonseca, ficcionista que é, não passa por esses problemas, mas tem também suas dificuldades. Afinal, como e o que falar sobre Guimarães Rosa e Euclides da Cunha sem cair na repetição? É aí que entra a ficção, disse Aleilton. Para escrever esses livros foi necessário fazer muitas pesquisas, afirmou, mas o fato de poder inventar personagens, situações e brincar com a realidade o atrai mais que escrever uma biografia ou perfil.
O encerramento do Fórum ficou a cargo de José Miguel Wisnik (músico e professor de literatura) e Arthur Nestrovski (que, entre outras coisas, é músico e articulista da Folha de São Paulo), na esperada aula-show “O fim da canção”. A Brasileiros infelizmente não pôde assistir ao encerramento do Fórum, mas, segundo Marília Cabral, estudante de jornalismo da Universidade Federal de Viçosa, que estava cobrindo o Fórum para o site Ouro Preto, “‘O fim da canção’ foi emocionante, bonito, foi arte!”.
Após cinco dias de um evento muito bem organizado – principalmente no que se refere ao suporte a jornalistas –, com uma programação intensa e diversa – havia, para as crianças, o Fórum das Letrinhas; para os adolescentes houve o Fórum Jovem; e ainda houve, com uma extensa grade de shows, lançamentos de livros e performances a Via-Sacra Poética –, não há duvida de que o Fórum das Letras de Ouro Preto se estabelece como um dos mais importantes e melhores eventos literários do Brasil. Portanto, longa vida ao Flop, e que a edição de 2010 seja ainda melhor.
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Confira a cobertura dos dias anteriores:
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[…] se tudo isso não bastasse, mais uma vez a Brasileiros me deu um grande empurrão e eu fui a Ouro Preto cobrir o Fórum das Letras para o site da revista. Não há como não ser eternamente grato a eles e não há como não gostar do pessoal que faz a […]
[…] também, o ano em que fui a Ouro Preto cobrir o Fórum das Letras de Ouro Preto, para o site da Brasileiros. Lá, conheci pessoalmente os jornalistas e escritores Jaime Prado […]