Algumas trilhas sonoras de filmes revelam grandes surpresas. Foi por causa de “500 dias com ela” que “descobri” a cantora Regina Spektor. Nascida na Rússia (então União Soviética) em 1980, Regina deixou o país com a família quando tinha cerca de nove anos de idade. Durante algum tempo – não consegui encontrar maiores detalhes sobre isso – os Spektor viveram na Europa, mas logo deixaram o velho continente e foram morar nos Estados Unidos. Foi lá que Regina teve sua formação musical consolidada, mas seus primeiros passos no mundo da música foram ainda Rússia, onde ela aprendeu a tocar piano.
Seu primeiro disco, “11:11”, foi lançado em 2001, e, assim como os que vieram depois, é mais que um simples álbum: é uma obra de arte, não apenas no sentido de que é uma manifestação artística, mas no sentido de que é algo que causa uma certa estranheza, admiração e surpresa (não necessariamente nessa ordem). Mas, antes de tudo isso, a sensação é a de que você está diante de algo belo. Não me perguntem o porquê, mas pensei em dizer que os três primeiros discos de Regina Spektor me fizeram lembrar de pinturas. Como não entendo nada de artes plásticas (quem domina o assunto é a Gisele Kato), deixei essa analogia pra lá.
As primeiras canções de “11:11” se aproximam bastante do jazz. Tanto que uma delas, a segunda, se chama “Rejazz”, e tem versos assim: “Thought I’d cry for you forever/ But I couldn’t so I didn’t/ (…)/ Thought I’d see your face in my mind for all time/ But I don’t even remember what your ears looked like” (numa tradução literal: “Pensei que fosse chorar por você para sempre/ Mas eu não consegui, então não chorei/ (…)/ Pensei que fosse ver seu rosto em minha mente o tempo todo/ Mas sequer lembro como eram suas orelhas”). As melodias são fortes, marcantes, e é o piano que quase sempre dá as cartas, como em “Back of a truck”. Já em “Mary Ann”, a voz de Regina é acompanhada apenas por um contrabaixo – se meus ouvidos não estiverem me traindo; essa canção termina com a cantora emulando um espirro, uma demonstração do bom humor e dos “efeitos bocais” que há em suas músicas. “Flyin” parece não ter instrumento algum, apenas a voz de Regina e uma tímida e improvisada percussão. A melhor canção do disco, na minha opinião, é “Braille”, que pode ser ouvida abaixo, via YouTube.
Os dois álbuns seguintes – “Songs”, de 2002, e “Soviet Kitsch”, de 2004 – seguem o mesmo caminho de “11:11”. Regina às vezes canta com a voz arrastada, como se estivesse um tanto alta – de álcool -, há quebras de ritmos nas músicas, às vezes duas, três variações dentro de uma mesma canção. O piano continua presente e predominante, claro, e continuam presentes os “efeitos bocais” da cantora. As letras falam de amor, contam histórias urbanas, fazem críticas à sociedade. De “Songs” eu destacaria “Samson”, “Consequence of sounds”, “Lulliby” e “Ne me quite pas” – que não é uma cover da famosa canção, mas uma composição divertida da própria Regina. De “Soviet Kitsch”, as que mais gostei foram “Ode to divorce”, “Poor little rich boy” (“You’re reading Fitzgerald, you’re reading Hemmingway“), “Us” (que faz parte da trilha sonora de “500 dias com ela”), “Chemo Limo” e “Somedays”.
Os dois últimos discos de Regina Spektor se aproximaram um pouco mais do pop – mas sem perder a qualidade. Amanhã farei um pequeno post sobre eles. Quem quiser ouvir mais da cantora, é só visitar o perfil dela no MySpace.