(Continuação do post de ontem.)
“Kidz”, que vem depois, segue a linha de “SOS”, e começa com o som de uma marcha de soldados. Sua letra quer ser distópica, e a melodia pretende passar a ideia de futurismo. Mas ela nos remete ao que imaginávamos de futuro nas décadas de 80 ou 90, e talvez seja esse ar um tanto nostálgico que faça com que “Progress” seja um disco diferenciado.
Ao não render-se ao que hoje é considerado moderno, e optar por resgatar uma outra visão da modernidade, o disco acaba sendo “inovador” a seu modo, “inovador” dentro do que a música pop se transformou. Em “Kidz”, por exemplo, a esperança de um mundo melhor é depositada nas crianças, nos jovens. Um discurso que, tendo em vista a juventude de hoje, deixou de ser defendido há tempos.
A letra de “Pretty things”, quinta canção do disco, poderia se encaixar perfeitamente em uma melodia mais comercial, mais simples e mais agradável aos ouvidos dos fãs de carteirinha da banda. Mas a opção do grupo por fazer um arranjo arrastado, beirando uma balada de rock indie/alternativo – não é tão absurdo imaginar o Interpol ou o The Doves executando “Pretty things” -, faz com que ela seja uma das melhores músicas de “Progress”.
Em seguida vem “Happy now”, a talvez única descartável do disco. Mas o divertido clipe que ela originou faz com que ela seja perdoada. Ainda mais quando ela é sucedida por “Underground machine”, cuja letra não diz muita coisa, mas tem uma das melhores, se não a melhor, construções melódicas do disco.
“What do you want from me?” tem uma das letras mais bobas, porém sinceras, do disco. Uma das suas estrofes é o bordão do homem fragilizado, essa espécie tão em voga no século XXI: “meu maior medo é/ talvez você notar/ que não sou o que você quer/ depois de todos esses anos”.
“Affirmation” vem depois e também fala em nome dos fragilizados, dos que querem se afirmar. Mas, assim como “Happy now”, é uma música que não faz muita falta.
O mesmo não pode ser dito de “Eight letters”, a música que fecha o disco. Ela começa com o som de uma agulha de vitrola pousando em um vinil, seguido de acordes de piano que dão o tom da canção até o seu fim. “Eight letters” é a faixa mais romântica do disco, e, na verdade, a única descaradamente romântica. Além de muito bem orquestrada, tem a melhor letra do álbum, o que faz dela a melhor canção de “Progress”. Aquela que você ouve repetidas vezes e não enjoa. Uma música que serve tanto para os corações desiludidos como uma declaração de amor para os apaixonados.
Alguém muito generoso poderia dizer que “Progress” é um álbum de pop alternativo. O Take That tem uma legião de fãs para agradar, e seria muito fácil seguir o caminho de “The circle”, um disco insosso, apesar de não ser um trabalho ruim. Porém, a decisão de mudar o rumo, de utilizar novos artifícios, de fazer progresso, independente da reação dos fãs – que, na verdade, não seria mais previsível: “Progress” é um dos maiores sucessos comerciais da Inglaterra de todos os tempos -, foi corajosa e meceria reconhecimento por si só. Mas, além disso, “Progress” é um dos álbuns pop mais bem produzidos dos últimos anos. É um trabalho que em certos momentos podemos chamar de abusado ou até mesmo prepotente, mas que tem valor e qualidade inquestionáveis.