Ora, vá…

Eu só queria mostrar a Cássia uma ferramenta do Blog da Cultura, que eliminou a limitação de “x” posts por página, que nos obriga a procurar o link de “posts anteriores” quando queremos fuçar um blog legal. No Blog da Cultura basta você ir baixando a barra de navegação e mais posts vão sendo carregados, sem precisar ser aberto um novo link. Visitem lá o blog e vocês entenderão.

Mas eu dizia que só queria mostrar essa ferramenta, da qual gostei bastante. (Aliás, se isso for um plugin e você souber qual é, me informe, por favor!). Acabei vendo este post, sobre uma declaração de Milton Hatoum, um dos escritores brasileiros mais aclamados e premiados dos últimos tempos. Hatoum disse o seguinte:

“Os novatos têm de se concentrar na leitura, em aprender a elaborar uma escrita de qualidade. Sair por aí exibindo-se e achando que assim vai se afirmar não funciona. (Os blogs) São diários, como os diários de debutantes que havia antigamente”.

Coitado de Milton. Pipocaram na blogosfera posts criticando sua declaração. Quer dizer, até que não foi tanta gente reclamando, mas enfim, alguns escritores – que por acaso também são blogueiros – reclamaram.

Não conheço Milton Hatoum, não quero ser seu amigo e tampouco li algum livro dele. Até tenho curiosidade, mas sinceramente não faço questão. É um escritor que, para mim, não vai fazer diferença nenhuma. E não vejo problema algum afirmar isso. Tem uma porrada de escritor, inclusive aqueles que sequer sei que existem, que não fará diferença alguma para mim. Posso muito bem passar minha vida inteira sem ler um livro de Amós Oz, por exemplo. Ou de Nadine Gordimer (que, aliás, tem um Nobel no currículo). Nossa, se formos falar de vencedores do Nobel de Literatura que nós, literatos, não lemos, é capaz de bater até uma depressão. Não dá pra ler tudo, portanto, é necessário fazer escolhas, desistir de alguns livros e autores. Pode acontecer de eu ler algum livro do Hatoum algum dia (sou curioso para saber do que se trata “Dois irmãos”), mas com certeza não é uma prioridade.

Enfim. O assunto do post é a declaração que ele deu e a repercussão exagerada entre escritores-blogueiros.

Creio que Hatoum tenha se referido, quando disse “os novatos”, a pessoas que publicam suas ficções em blogs e não têm ainda livros publicados. Acho que ele tinha em mente jovens com mais ou menos 20 anos que, em vez de lerem bastante, perdem tempo escrevendo histórias ruins e as publicando em blogs. Posso falar disso porque eu já fiz isso. Eu já tive um blog no qual publicava contos que eu achava bons. Depois de algum tempo que meus amigos e eu interrompemos as atividades no blog que compartilhávamos, (re)li meus os “contos” que eram publicados lá. Cheguei à conclusão de que pouquíssima coisa poderia ser considerada boa. A grande maioria era porcaria. Algumas histórias até têm potencial, mas precisam ser completamente reescritas. Esses escritos ainda me assombram, penso até em compilá-los em um arquivo de PDF e deixar aqui no blog, pra curiosos baixarem e lerem. Seria uma forma de me livrar disso e deletar todos eles do meu computador. É certo que para chegar à perfeição, é preciso praticar. Só não é tão preciso publicar. Pode-se muito bem escrever e deixar nos cadernos, mostrar a algumas poucas pessoas. Era o que eu deveria ter feito. Elogios indevidos foram prejudiciais – porque as pessoas mentem, dizem que acharam o texto bom, mas na verdade aquele texto é uma droga. E você só vai ficar sabendo disso anos depois. Mas, enfim, estou quase fugindo do assunto de novo.

A questão é que Hatoum está certo e não há motivo para esse furdunço todo. Os novatos – eu tô dentro! – devem mesmo ler mais e blogar menos – ao menos ficção. Um conto ou um poema não está pronto até ele estar pronto. Não é só baixar o Exu Literato, escrever umas duas páginas do Word e achar que está ali o melhor conto que você escreveu até então (isso já aconteceu comigo). Um conto ou poema precisa ser bem trabalhado, bem escrito, bem revisado… E isso não se faz em duas horas de relógio. São dias e dias de trabalho, de “esquecer” o texto por um tempo e depois retomá-lo.

Ninguém aqui é um Jack Kerouac (que escreveu “On the road” de uma vez só, em não sei quanto tempo, sob efeito de não sei quantas drogas). Acho que alguém precisa dar um choque de realidade nesse pessoal. NINGUÉM AQUI É UM JACK KEROUAC, saca? Acabou isso, não tem mais aquela magia. Esqueçam essa história. Hoje, para ser escritor, é necessário mesmo sangue, suor e lágrimas. Além de uma boa dose de perseverança. Não vou falar em vocação, porque é possível alguém sem vocação se tornar escritor (são tantos por aí…). Mas se ela existir, se houver o dom, melhor ainda.

Se bem que, nossa, me empolguei e esqueci do principal. O pessoal se exaltou mais foi por causa do “diários de debutante”. Ora, o pior é que a maioria dos blogs dos novatos é isso mesmo. Até por conta de os poemas e contos serem escritos, geralmente, em primeira pessoa. Então fica a impressão de que é mesmo um diário (é verdade, era assim comigo também). O Hatoum não disse isso de graça, ele tem razão.

Este blog, por exemplo, parece mais um diário. Agora eu estou aqui desabafando, mas poderia estar fazendo isso numa agenda. Imagino que seria assim:

“Querido diário, hoje soube que caíram em cima do Milton Hatoum por causa de uma coisinha de nada que ele disse sobre escritores novatos e blogueiros. Ah, querido diário, estou de saco cheio de as pessoas fazerem estardalhaço por besteira, sabe? Você também não sente isso, meu diariozinho do coração? Que droga, por que esse pessoal não cala a boca e vai ler ou escrever algo que preste? Deixem o Milton Hatoum em paz.”

Mas eu não tenho um diário de papel, nem quero ter. Então escrevo aqui mesmo. Mais pra servir depois de suporte pra algum texto sério (ou não) a ser escrito do que para alguém ler. Não estou desprezando os leitores, claro, só estou me resignando à minha insignificância. Coisa que todo mundo deveria saber fazer, em vez de querer fazer polêmica em cima do nome de gente mais famosa…

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