Gilberto Vazio e o gil (digo, Gilberto Gil e o vazio)

O fragmento abaixo foi retirado desta entrevista que Gilberto Gil concedeu ao Terra:

O vazio dos prédios, o vazio de algumas pessoas com que você era obrigado a conviver. Como era lidar com todos esses vazios?
É a mesma coisa que a gente fala das gravadoras. A gente tem esse vazio total, de tudo. O vazio que está em todas as coisas. E cabe a nós, com nossa alma e nosso espírito, com nossa inteligência e nossa cultura, cabe a nós preencher esses vazios. É isso que a gente faz o tempo todo. É a obra do poeta. O poeta vai dando sentido à política. Porque ela é só discussão vazia, ela tem que ser necessariamente um vazio onde caibam todas as contradições dos discursos múltiplos. O que é o espaço político? É a ágora, onde todo mundo fala, onde todo mundo defende sua visão parcial, seus interesses. A política é o conflito, o choque, que só pode se dar no vazio. E só pode produzir vazio (risos). É vazio por forma e por conteúdo. A poesia é esse outro lado. É uma dedicação generosa a dar sentido às coisas, que é o papel do poeta. É isso que nós devemos continuar fazendo. Esse é o nosso papel.”

Mais uma prova de que mentes brilhantes também falam besteiras. Porque o poeta não dá sentido a nada. O poeta busca o sentido das coisas. É uma busca insana e eterna, é disso que ele faz a poesia. Poetas existem para fazer poemas e, se a ele convir, questionar a arte, a sociedade, a política, enfim, questionar tudo. O poeta – o escritor – é um questionador. Uma espécie de Indiana Jones que não sabe o que está procurando. Mas procura. E não para nunca, nem mesmo quando morre. Ou não.

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