O tempo do escritor

Li mais um capítulo de “Oficina de escritores“. Capítulo que todas as famílias, mulheres e amigos de escritores ou aspirantes a escritores deveriam ler.

O capítulo se chama “A vida de escritor” e é dividido em algumas partes. Gostei tanto do “subcapítulo”, digamos assim, “O tempo do escritor” que resolvi digitar dois trechos para colocar aqui no blog. Divirtam-se.

“É um trabalho”, diz Philip Roth, “apenas um trabalho sem fim. Não há tempo algum para bobagens. Simplesmente tenho de trabalhar o tempo todo, trabalhar muito, e eliminar todo o resto…” “Escrevo mais ou menos das dez às seis, todos os dias, com uma hora para o almoço e o jornal. À noite, costumo ler. Em geral, é isso.”

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Parece que só os escritores devem pedir perdão por ter um trabalho que lhes toma muito tempo. “Peça a um médico que trabalhe só duas horas por dia”, rebate John Irving. “Seus amigos e sua família”, diz David Bradley, “podem querer sinceramente que você faça o que quer fazer, mas também esperam que faça o que eles querem. Desejam que você faça coisas por eles. Pior, esperam que você faça certas coisas com eles – almoçar, tomar um drinque, ir ao cinema. Talvez eles aceitem se você disser que não tem tempo agora, mas vão querer saber quanto tempo esse agora vai durar. Provavelmente não aceitarão a resposta que o escritor tem de dar: pode durar um bom tempo. Na verdade, pode ser assim para sempre”.

A dolorosa verdade é que, para ser escritor, você precisa escolher o que vai sacrificar. Claro, as pessoas que você ama terão prioridade. Nadine Gordimer estabelece uma clara distinção entre as exigências da vida familiar e as da vida social. “Penso que os escritores, os artistas, são e precisam ser pessoas inflexíveis. É desagradável para os outros, mas não sei de que outro modo lidar com isso. O mundo nunca vai arranjar espaço para você. Minha família acabou entendendo e respeitando isso… O que também sacrifiquei, e para mim isso não foi sacrifício, foi a vida social… [o] escritor não precisa de tempo apenas quando está escrevendo – precisa de tempo para pensar, para deixar as coisas amadurecerem. Nada é pior para isso do que o convívio social, do que o efeito abrasivo, ainda que prazeroso, das outras pessoas.”