O psicólogo, com Kevin Spacey

Assim como aconteceu com “Lunar“, só tomei conhecimento do filme “O psicólogo” (2009) porque fui à locadora. E aqui abro um pequeno parêntese para dizer o seguinte: não podemos deixar que as ferramentas tecnológicas nos façam perder hábitos como ir às bancas de revistas, às livrarias, às locadoras de filmes. Se você compra livros apenas pela internet ou através do seu Kindle, por exemplo, deixa de ter a oportunidade de ser fisgado por uma capa interessante ou por uma dica de vendedor. É claro que existe a possibilidade de “esbarrar” virtualmente com algo interessante, mas em uma loja física as chances de isso acontecer são maiores, por mais incrível que possa parecer.

“O psicólogo” é protagonizado pelo sempre brilhante Kevin Spacey. Não são muitos os atores em atividade que se doam tanto a um papel como ele. Mesmo em filmes não tão cerebrais, como “A negociação” (1998), ou mesmo em produções ridículas, como “Superman – O retorno” (2006), ele mostra ser um ator diferenciado. Vencedor do Oscar de Melhor Ator com o personagem que lhe coube em “Beleza Americana” (1999), Spacey protagonizou filmes que não tinham como preocupação arrecadar milhões de dólares, como “A vida de David Gale” (2003) e “K-Pax” (2001), sem contar na participação que fez no já citado “Lunar”. Kevin Spacey é um daqueles caras que não têm mais nada a provar a ninguém, e que parecem continuar na ativa porque realmente gostam do que fazem.

Mas enfim. “O psicólogo”, que aqui no Brasil saiu com o subtítulo “O doutor está fora…”, parte do princípio de que algumas vezes o mundo é mesmo pequeno, e logo no início são apresentados os personagens que pouco a pouco estarão mudando o rumo das vidas uns dos outros. O protagonista da história é Henry Carter, um psicólogo famoso por tratar celebridades. Seu livro, “Stop feeling sad” (“Pare de se sentir triste”, em tradução literal), é um dos mais vendidos do país, mas Carter vive em profunda tristeza e quase absoluta letargia desde que sua esposa cometeu suicídio.

Ele se entrega à bebida e às drogas – a quase todo momento o vemos fumar um baseado -, uma maneira de ficar alheio à dor e a tudo o que acontece ao seu redor. Só quando seu pai, também psicólogo, lhe “repassa” uma paciente, a jovem Jemma, cuja mãe também cometeu suicídio, é que Carter começa a se dar conta de que está perdido. Mas nem isso o faz repensar suas atitudes. Isso vem acontecer quando, depois de utilizar uma droga mais forte – ao que parece, uma erva adulterada -, Carter vai parar no hospital. O problema é que talvez não haja mais tempo para colocar sua vida nos trilhos.

“O psicólogo” tem Hollywood como pano de fundo. Jemma é uma jovem que adora cinema e quer fazer filmes; um dos clientes de Carter é Jack Holden (participação especialíssima de Robin Williams), um ator famoso viciado em álcool; outro personagem importante para a trama é Jeremy, que está tentando escrever o roteiro de filme. Portanto, o “mundo do cinema” está presente o tempo inteiro. A questão do vício em drogas ou álcool, as relações costuradas meramente com interesse em autopromoção, o passar dos anos que afasta bons papéis de uma atriz são exemplos de assuntos abordados. Mas o ponto-chave do filme é mostrar que, na maioria das vezes, somos nós os nossos maiores inimigos, e só nós mesmos é que podemos nos resgatar dos buracos em que nos enfiamos.

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