Amor sem escalas (o filme)

Muito já foi dito sobre o filme “Amor sem escalas”, estrelado por George Clooney, meses atrás, quando de seu lançamento nos cinemas nacionais. Portanto, não é minha intenção aqui fazer uma resenha do filme. O que desejo é apenas fazer alguns comentários meio soltos – ou nem tanto – a seu respeito.

1) Foi feito muito oba-oba em cima dele. Tanto que ele recebeu seis indicações ao Oscar. Quando isso acontece, as expectativas de quem vai assisti-lo tendem a ser grandes, talvez até demais. O fato é que, apesar de “Amor sem escalas” ser bom, não vi nada que justificasse o número de indicações ou até mesmo a veemência com que falou-se dele por aí. É verdade que o roteiro é muito bom, mas as atuações – Clooney foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e suas duas companheiras de cena, Vera Farmiga e Anna Kendrick, ao de Melhor Atriz Coadjuvante – não são nada oscarizáveis, apesar de também serem boas.

2) Ele é uma adaptação do romance de mesmo nome, escrito pelo norte-americano Walter Kirn, que foi publicado aqui este ano, pela editora Record (352 págs., R$ 47,90). No mais das vezes, o resultado de uma adaptação de obra literária para o cinema não consegue refletir na tela a qualidade do que foi originalmente escrito. Ou seja: quase sempre o livro é melhor que o filme. Infelizmente não poderei tirar a prova disso agora, por estar com uma série de leituras acumuladas. Mas acho que ainda este ano leio “Amor sem escalas”. Li as primeira 40 páginas e gostei, mas fui obrigado a deixar o restante para depois.

3) Um resumo do filme para quem nada sabe sobre ele: Ryan Bingham (Clooney) trabalha para a CTC (Career Transition Counseling), uma empresa de “consultoria de transição de carreira”, como dá a entender a tradução literal de seu nome. Sua função é ir a empresas avisar a determinadas pessoas que elas estão demitidas (parece que, em certos casos, os próprios patrões não têm coragem de fazer o “trabalho sujo”). Sobre Ryan: ele é um homem solitário e não vê nada de mal nisso. Gosta de ser sozinho, prefere viver assim. Se distanciou até mesmo de sua família. A trama começa a tomar forma quando duas mulheres – sempre elas! – cruzam seu caminho, trazendo promessas de mudanças. Uma é Alex Goran (Farmiga), aquela que parece conquistar o coração de Ryan; a outra é Natalie Keener (Kendrick), que apresenta à CTC uma saída para cortar os custos com as viagens para comunicar demissões: fazer os comunicados através de videoconferência. As viagens de Ryan, portanto, podem ser cortadas. Para saber o que vem a seguir, recomendo assistir ao filme, que é bastante engraçado em alguns momentos.

4) Mas a história do homem solitário que parece finalmente encontrar a mulher que o fará se apaixonar não é nem secundária, na minha opinião. Eu diria que é terciária. Porque antes disso vêm duas outras mais importantes. A primeira se refere a mudanças trazidas pelos avanços tecnológicos. Isso me fez lembrar de um outro filme que assisti meses atrás (“Intrigas de estado”, com Russell Crowe e Ben Affleck) e também de todas as discussões que toda hora vemos por aí, sobre o fim dos jornais, futuro dos livros e até mesmo dos pregos. O personagem de Clooney mostra à jovem Natalie que nem sempre o que há de mais moderno é o que há de melhor, ainda mais quando se trata de relações interpessoais ou, se me permitem ser um pouquinho piegas, de emoções humanas. Não se sente o calor de um abraço via MSN. A quentura dos lábios de alguém não é transmitida através das fibras óticas que nos trazem sua voz.

5) A segunda questão é mais íntima e pessoal ainda: pode alguém ser solitário e viver bem assim?. Quantos de nós não fazemos caretas quando sabemos que alguém prefere ser sozinho, que esse alguém não precisa ter uma pessoa ao seu lado, que “casamento” ou mesmo “namoro” são palavras que não fazem parte de seu dicionário? Por que essa quase obrigação em se “encontrar alguém”, em casar e ter filhos? Da mesma forma que existem pessoas dispostas a adotar 20 crianças, existem outras que não querem sequer uma. Qual o mal nisso? Para alguns, o protagonista do filme é alguém egoísta, arrogante, autossuficiente, talvez até um tanto medroso de se envolver emocionalmente. Ele se afastou de sua família, não tem amigos, é realmente um homem só. Mas e daí? Se é assim que ele se sente bem, qual o problema?

Enfim, são muitas perguntas, e cada um tem suas próprias respostas. Sobre “Amor sem escalas”, eu diria que bons filmes são aqueles que nos emocionam ou que nos fazem pensar. Quando em vez de “ou” há um “e”, eles são melhores ainda. É justamente o caso dele.

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