O ideal do crítico

“Não quero proferir um juízo, que seria temerário, mas qualquer um pode notar com que largos intervalos aparecem as boas obras, e como são raras as publicações seladas por um talento verdadeiro. Quereis mudar esta situação aflitiva? Estabelecei a crítica, mas a crítica fecunda, e não a estéril, que nos aborrece e nos mata, que não reflete nem discute, que abate por capricho ou levanta por vaidade; estabelecei a crítica pensadora, sincera, perseverante, elevada – será esse o meio de reerguer os ânimos, promover os estímulos, guiar os estreantes, corrigir os talentos feitos; condenai o ódio, a camaradagem e a indiferença – essas três chagas da crítica de hoje; ponde em lugar deles a sinceridade, a solicitude e a justiça – é só assim que teremos uma grande literatura.”

As palavras acima, escritas por Machado de Assis, fazem ainda todo o sentido hoje. A atemporalidade é uma das características mais louváveis dos gênios. Mas, no caso do ensaio “O ideal do crítico”, do qual o trecho acima foi retirado e que dá título ao livro publicado recentemente pela editora José Olympio, Machado bem que poderia não ser atemporal, e nossos críticos e debates literários poderiam ser bem melhores, mais refinados.

Verdade que não podemos generalizar e dar a causa como perdida. Existem, sim, as discussões corretas, feita por pessoas sensatas. E há também críticos que honram as palavras de Machado. Mas tanto essas discussões quanto tais críticos são minorias, e geralmente ficam longe dos grandes veículos de informação. O que é uma pena, pois o comum, hoje, é vermos a literatura sendo utilizada como trampolim por ególatras e pseudogênios de plantão.

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