O Lucas Murtinho comentou o seguinte no post abaixo:
Ao contrário de você, acho que não existe “bom” e “ruim” que vá além do gosto do crítico, ou de qualquer outra pessoa: gostamos do que é (para nós) bom e não gostamos do que é (para nós) ruim. No máximo, podemos fazer a diferença entre tipos de bondade ou ruindade: literário, popular, ambicioso, modesto, difícil, fácil. Mas a apreciação da qualidade em si é subjetiva.
Eu estou cansado pra caramba, a cabeça pesando e funcionando aos trancos, mas vou tentar responder. Porque se eu deixar pra outro dia, já era, esqueço mesmo, ou dá preguiça. Nada com o comentário ou o assunto, é que sou assim mesmo.
Machado de Assis. É bom? É. E quem é doido de dizer que não? Mas Machado é bom. Eu gosto dele? Não. Mas vou dizer que é ruim? Não.
João Ubaldo Ribeiro. É bom? É. Eu tentei ler dois romances e não gostei. Vou dizer que ele – no caso, os romances – é ruim? Não. Eu lá sou doido?
É disso que estou falando. Todo aquele que faz crítica deve ter o mínimo de bom senso, e deve entender que certas coisas são mesmo boas, que por mais que ele não goste, ele não pode chegar e dizer “ah, isso é ruim”. Uma vez vi alguém dizer que Machado de Assis escreve mal. Um dos maiores absurdos que já li, aliás.
Mas é óbvio que o “gostar” pode interferir no juízo de valor do crítico. Ele pode gostar muito de um livro, saber que não é tão bem escrito, mas fazer uma resenha elogiosa sobre ele. A depender de como ele faça isso, tudo bem. Assim: eu tenho ali um livro do Philip Roth pra ler, o primeiro dele, “Adeus, Columbus”, lançado recentemente pela Companhia das Letras. Comecei e tive que interromper a leitura. Mas gostei muito do que li até agora, apesar de achar que o jovem Roth quis mostrar ao leitor que ele tinha/tem muito conhecimento. O excesso de detalhes chega a atrapalhar a leitura em certos pontos e a novela fica chata, em alguns trechos.
Eu não gosto de detalhes. Digo, eu não gosto de descrições longas e detalhistas. Mas aprecio bastante quem as consegue fazer, porque fazê-las bem ajuda bastante. E Roth faz isso bem. Só que eu não gosto. Mas eu gostei do tema da novela – são seis, se não me engano, no livro, estou me referindo à primeira – e passei o olho pelas outras e percebi que não tem como eu não gostar do livro. Apesar de eu não gostar de certos maneirismos dele.
Meses atrás li “Um quarto com vista“, romance de E. M. Forster. O livro é chato até a metade. É engraçadinho, mas muito chato, a leitura é arrastada. Só que não posso dizer que o livro não é bom. O romance é bem escrito, tem lá suas falhas, mas é bem escrito, e é de uma importância sem tamanho, porque há no livro referências ao movimento feminista, que não tinha ainda força alguma, há no livro críticas à burguesia inglesa e há também uma leve insinuação ao homossexualismo, que viria a ser tema de um outro romance de Forster, décadas depois. “Um quarto com vista” é um livro bom, e pra alguém provar que não é vai ter que suar bastante, mas eu não gostei tanto assim.
O que eu posso fazer no caso do Roth e o que eu fiz no caso do Forster? Simples: deixar claro que, no primeiro caso, eu gostei do livro, apesar de ter achado enfadonho em algumas partes, e exaltar a importância do segundo, deixando de lado o meu gosto, que foi o que eu fiz, e talvez faça com o livro do Roth, se é que vou resenhá-lo algum dia.
Escrevi bem mais do que achei que iria, e nem sei se me fiz ser entendido. Me digam depois. E Lucas, obrigado pela deixa.
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