O altar das montanhas de Minas

Editoras de livros têm como foco publicar livros e autores novos. É o que mais movimenta o mercado. Até onde sei, uma das partes mais importantes do trabalho de um editor é descobrir ou fazer chegar ao público leitor obras de qualidade tanto de autores estrangeiros quanto de escritores brasileiros. Tudo bem que às vezes a qualidade não é o forte de muitos livros, mas existe uma preocupação maior em publicar obras inéditas de autores consagrados e também de autores não tão conhecidos ou mesmo nunca antes publicados.

Além desse trabalho, há outro, também de grande importância: o de reeditar livros que por algum motivo estão fora de catálogo há anos. Falei aqui recentemente de “A balada do café triste”, da escritora norte-americana Carson McCullers, que havia sido publicado no Brasil na década de 1990. Na época, eu tinha menos de 10 anos e lia, sei lá, Turma da Mônica, Tio Patinhas. Os anos se passaram e, apesar de outros livros da autora terem sido editados no Brasil, eu não conhecia “A balada…”. Graças a uma reedição é que pude conhecê-lo – e lê-lo. Daí que esse trabalho de trazer novamente à luz obras “esquecidas” é extremamente louvável.

Do escritor mineiro Jaime Prado Gouvêa eu já tinha lido “Fichas de vitrola & outros contos” (Record, 2007), que não chega a ser uma reedição de obra anterior, mas uma coletânea que abrigou velhos e novos contos do autor. Meses atrás, no finalzinho de fevereiro, foi reeditado “O altar das montanhas de Minas” (Record, 208 págs., R$ 37,90), romance de Jaime publicado originalmente em 1991.

Escrito de maneira irrepreensível, “O altar das montanhas de Minas” é um livro primoroso, memorável. Desses que ficam ecoando na mente durante semanas, quem sabe até durante meses. Seu personagem, um jornalista belo-horizontino à moda antiga, desses que fazem falta nos dias de hoje, muito competente mas também divertido e bonachão – e um tanto “porra-louca” –, é carismático e marcante. Dirceu Dumont é o seu nome, e logo no início ficamos sabendo que ele está começando a escrever um romance. Por causa desse projeto, Dirceu se vê enredado em uma série de situações que mudam completamente o rumo de sua vida.

Graças a ele – e a Jaime Prado – o livro não se torna um muro de lamentações, mas quase uma tragicomédia digna das melhores comparações. Em algumas passagens é difícil não se lembrar do escritor Fernando Sabino – conhecido pelo senso de humor aguçado –, tamanha é a espontaneidade e a espirituosidade do protagonista e do narrador.

“O altar das montanhas de Minas” é mais uma prova de que a literatura brasileira contemporânea não se restringe a uma meia dúzia de nomes consagrados. Há muitos livros e autores de enorme talento que não são absorvidos e lembrados – sabe-se lá por que – pelos leitores e pela crítica. Que este livro de Jaime Prado Gouvêa seja bem acolhido nesta sua nova edição. Ele merece. É um livraço.

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