Charlie Kaufman é um dos mais talentosos roteiristas de cinema em atividade. São de sua autoria roteiros de filmes cultuados como “Quero ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, sendo os dois últimos obras-primas. “Lunar” (2009), que foi lançado no Brasil direto em DVD no início deste ano, tem uma história que poderia perfeitamente ter saído da mente de Kaufman. Poderia.
O argumento do filme é do seu diretor, Duncan Jones, e o roteiro é assinado por Nathan Parker. A ideia é simples: um astronauta, Sam Bell, está na Lua cumprindo um contrato de três anos de trabalho para uma empresa chamada Lunar. Eles exploram o terreno do nosso satélite, de onde tiram o gás Hélio-3, utilizado como forma de combustível na Terra.
Prestes a retornar para casa, o cansaço mental começa a interferir no trabalho de Sam. Primeiro ocorre um pequeno acidente com água quente, e ele queima as costas da mão; depois, ao sair no “jipe” lunar, ele tem uma visão e sofre outro acidente, dessa vez mais grave. É aqui que as coisas começam a ficar mais complicadas.
Um outro Sam Bell aparece, e, por acaso, salva o Sam acidentado. A princípio, somos levados a crer que o novo astronauta é clone do original, mas depois a situação se inverte, para depois mudar mais uma vez. E aqui encerro a descrição da história, para não estragar as surpresas proporcionadas pelo filme.
O papel de protagonista coube a Sam Rockwell, um excelente, mas não muito (re)conhecido, ator. Fazendo-lhe companhia está a voz de Kevin Spacey, que “faz o papel” do robô Gerty, a máquina que dá suporte ao astronauta e controla toda a base lunar em que ele vive/trabalha.
O tema principal de “Lunar”, como o de (quase) toda ficção científica, é a preocupação com o nosso futuro. Assuntos como clonagem e fontes de energia são, de maneira discreta, apresentados no filme. Digo “discreta” porque não há, como em algumas produções, uma discussão ética profunda entre personagens, não há o “contra” e o “a favor”. “Lunar” nos apresenta uma história que pode vir a acontecer, caso consigamos desenvolver tecnologias que nos permitam clonar seres humanos e retirar matéria-prima energética da Lua. Mas a história mais importante, mesmo, é a de Sam Bell, um homem que está literalmente distante da família há anos. O que tamanha longitude e solidão pode fazer com alguém? O que ele perde, com isso? O que ele ganha? Ou melhor: ele ganha algo?
***
Duas curiosidades:
1) Nos extras do DVD, o diretor Duncan Jones responde a perguntas de uma plateia, e em uma das respostas ele fala qual foi o orçamento do filme: 5 milhões de dólares. É difícil acreditar que tenha sido este o valor captado para a produção de “Lunar”. É tudo tão bem feito que a impressão é de que o filme custou horrores.
2) “Descobri” “Lunar” totalmente por acaso: passei na locadora justamente no dia em que o filme estava sendo disponibilizado para locação. Até então, não tinha ouvido falar dele. Fiquei maravilhado pela capa, e quando vi que Sam Rockwell é o protagonista, não pensei duas vezes: trouxe logo pra casa, mesmo sem saber se teria tempo para assisti-lo. Se você está tomando conhecimento dele agora, não perca tempo: vá correndo à “sua” locadora e pegue o filme. É mais um daqueles que dá vontade de assistir duas, três vezes.