Filhos da morte burra

O excelente disco novo do Detonautas Roque Clube (“O retorno de Saturno“) traz uma música chamada “Ensaio sobre a cegueira”. Quase no fim dela, o poeta Edu Planchêz (de quem eu nunca ouvira falar até comprar o disco) declama uma poesia sua chamada “Filhos da morte burra”. Segue abaixo o poema. Quero escrever sobre o disco, com mais calma. Mas fica aqui a indicação. Discaço. Até o Barbão gostou da música, imaginem!

Jovens
sem nenhuma utopia
caminham tensos pelas ruas de suas casas velhas sem nenhuma luz,
sem nenhuma luz de Fernando Pessoa;
fechados nas sexuais telas da impotência
se masturbam contemplando corpos em decomposição

Norte de minha Fé,
onde estavam o beija-flor e o arco-íris na hora do nascimento dessas criaturas?

Eu entrando na virtuosa idade e eles entrando em idade nenhuma
Quantos raios de flor restam nos corredores dos céus de vossas bocas?
Quais nascentes clamam por seus nomes?

Os filhos da morte burra cheiram o branco pó da anemia,
esqueceram que um dia tocaram na poesia da transgressão
em pleno ventre de suas esquecidas mães;
esqueceram de colar o ouvido ao chão
para ouvir as ternas batidas do coração das borboletas

Os filhos da morte burra,
jamais levantam uma folha para contemplarem o labor dos insetos;
jamais ergueram uma taça de orvalho brindando a vigorosa lua;
Os filhos da morte burra,
desconhecem ou nunca ouviram falar em iluminação;
abrem a boca apenas para vomitar

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