* O post abaixo foi publicado originalmente no que seria meu outro blog, o O Leitor, mas que por motivos de falta de tempo foi temporariamente abortado. A republicação aqui – com algumas pequenas alterações – se dá pelo fato de a Veja desta semana trazer uma entrevista com o escritor Nick Hornby, citado no post, e que estou lendo novamente neste momento – ainda o seu “Frenesi Polissilábico”.
Tenho o hábito de ler vários livros ao mesmo tempo. Não recomendo isso a ninguém, porque chega a ser um tanto esquizofrênico, e se o leitor não ficar bem atento, pode confundir uma obra com outra. Quantas e quantas vezes não me peguei lembrando de uma cena de um outro livro, e não do que estava em minhas mãos no momento?
Por outro lado, é uma espécie de termômetro. Começar vários livros diferentes ao mesmo tempo te dá a oportunidade de saber como você realmente está. (Por favor, não levem isto a sério, é apenas uma pseudoteoria minha.) Exemplo: você começa a ler um romance existencialista, um livro de contos bem-humorado e um outro de crônicas sobre livros. Se você terminar mais rápido o romance, é sinal de que você não está muito bem psicologicamente, digamos, mesmo que não se dê conta disso. Se o livro de contos bem-humorados acabar primeiro, é sinal de que você está bem; podes não estar bem, bem, mas está bem. E se o escolhido for o terceiro, com as crônicas literárias, é sinal de que você está procurando justamente uma orientação sobre o que ler, e que você está num momento bem zen, na minha opinião. Afinal, não está mal, nem bem. Apenas está. E isso é até legal, sabia?
Mas enfim.
No momento, estou lendo três livros ao mesmo tempo, se formos rigorosos. Se formos bonzinhos, estou lendo uns 6 ou 7, já não lembro. Um deles é “Frenesi Polissilábico“, de Nick Hornby. Comecei a ler pelo meio dele e só depois de dois artigos é que fui ler a introdução. Nela, encontrei o seguinte trecho:
“E por favor, pelo amor de Deus, parem de fazer pouco caso daqueles que estão lendo e curtindo um livro – ‘O Código Da Vinci’, por exemplo. Para início de conversa, ninguém sabe que tipo de esforço isso representa para o leitor. Pode ser o primeiro romance adulto que a pessoa esteja lendo na íntegra; pode ser o livro que finalmente revele o propósito e a alegria de ler para alguém que até então estava confuso pela atração que os livros exercem sobre os outros. E, de qualquer forma, ler por diversão é o que todos nós gostaríamos de fazer. Não quero dizer que todos deveríamos estar lendo romances água-com-açúcar ou suspenses baratos (embora, caso seja essa a sua praia, por mim tudo bem, pois vou lhe contar um segredo: nada de mau lhe acontecerá se você não ler os clássicos ou os romances que ganharam o Booker Prize deste ano; e, mais importante, nada de bom lhe acontecerá caso você os leia); estou simplesmente dizendo que virar páginas não deve ser como caminhar num pântano com lama até a cintura. Livros são para ser lidos, e se você achar que não dá pé, provavelmente a culpa não é de sua incapacidade: às vezes, os ‘bons’ livros podem ser bem ruinzinhos.”
Confesso que já fiz pouco caso de best-sellers, continuo fazendo e vou fazer sempre, acredito. Mas porque gosto de ser chato. Na verdade, sei que os best-sellers são o sustento do mercado literário. E os admiro. Sério, de verdade. Assim como os livros de autoajuda. Não fossem eles, não sei o que seria das editoras.
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Ontem assisti à entrevista que a escritora Thalita Rebouças concedeu a Edney Silvestre. Autora de livros para adolescentes, Thalita é uma das poucas escritoras brasileiras que podem viver exclusivamente de literatura. Isso, no Brasil, é algo raro. E alguém que consiga isso merece todos os aplausos. Mais que isso: é digno de observação e atenção. Afinal, esse alguém pode ter muito a ensinar. E Thalita tem, sim, bastante para ensinar. Se por um lado escritores como J.D. Salinger, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan são reclusos e mesmo assim mantêm uma carreira de sucesso, Thalita prova que às vezes o escritor precisa é colocar a boca no mundo e “aparecer”, mesmo. Ou ele faz isso ou será mais um entre os milhares escritores desconhecidos que existem por aí.
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O que me levou a relacionar Hornby e Thalita foi o fato de ambos terem opiniões parecidas e eu tê-las conhecido no espaço de 24 horas. Thalita afirma que séries como “Harry Potter” fizeram os jovens ler mais. Livros como “O Código Da Vinci” fazem adultos lerem mais – o que Dan Brown vendeu e continua vendendo não é brincadeira…, vide seu novo livro, “O símbolo perdido”, que só no dia de lançamento nos Estados Unidos vendeu 1 milhão de exemplares (veja a notícia completa clicando aqui e depois em “Saiu na imprensa”).
Sou da opinião de que nem todos os que começam a ler best-sellers passam a ler melhor. Mas acredito que elas leem mais. E isso já é um bom começo, não?