Capitão América – O primeiro vingador

A maioria dos filmes de super-heróis têm apenas um intuito: divertir o telespectador. São produções que trazem lutas entre o Bem e o Mal, e um super-herói quase sempre às voltas com um amor que precisa proteger ou recuperar.

Poucos são os filmes que fogem desse script. Nos últimos anos, o nível das produções que envolvem super-heróis aumentou significativamente, como os três “Homem Aranha” protagonizados por Tobey Maguire, mas esse aumento de qualidade foi um tanto limitado – ficou restrito aos efeitos especiais e algumas atuações -, não se expandindo aos roteiros.

As exceções a isso são os dois filmes do Cavaleiro das Trevas (Batman), de Christopher Nolan. Tanto o primeiro, quanto o segundo, são obras-primas, se comparados a outras produções do mesmo nicho. Principalmente o segundo, “The Dark Knight”, que tem um roteiro brilhante, além da atuação magistral de Heath Ledger no papel do Coringa. Apesar de cair no chavão do terrorismo, algo comum em Hollywood, mesmo antes do 11 de setembro, o filme toca em uma questão fundamental nos dias de hoje, que é a ética.

Na Gotham City de “The Dark Knight”, quase todos os homens públicos estão corrompidos, e a esperança de dias melhores se resume a apenas um homem de valor: o promotor Harvey Dent, que no desenrolar do filme se torna o vilão Duas-Caras e, já próximo do final, brada uma das falas mais marcantes do cinema da última década: “Você pensou que nós poderíamos ser homens decentes em tempos indecentes. Mas você estava errado. O mundo é cruel, e a única moralidade num mundo cruel é o acaso”.

Uma das obras-primas da primeira década deste século, “The Dark Knight” abriu caminho para que filmes de super-heróis não sejam apenas diversão, mas que possam também tratar, ainda que superficialmente, de temas contundentes.

Capitão América – O primeiro vingador” não chega a ser uma obra-prima, mas, a exemplo do Batman de Chistopher Nolan, toca num assunto que parece estar sendo esquecido, e que, aliás, dá título a um livro recentemente publicado no Brasil pela editora Vozes – e que vale, no mínimo, a folheada: nobreza de espírito.

Steve Rogers – interpretado por Chris Evans -, o futuro Capitão América, é um garoto mirrado que tem o desejo de servir ao exército americano durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, justamente por seu tamanho, ele é rejeitado várias vezes. No filme, um cientista ouve, por acaso, seu desabafo a um amigo, de que quer servir ao país, pois há tantos lutando e morrendo e ele não acha justo estar de fora apenas assistindo, e resolve dar uma chance ao rapaz. Não uma simples chance no exército, mas sim em algo muito maior: um projeto para formar supersoldados que seriam utilizados para combater os nazistas. Steve agarra a oportunidade e, em três ou mais ocasiões, o cientista – interpretado por Stanley Tucci – se refere ao fato de ele ser “um homem bom”, um “homem de valor”.

O objetivo maior do filme, claro, é divertir, mas não se pode deixar essa valorização ética passar batida. Ainda mais nesses tempos indecentes em que vivemos.

Somente por isso “Capitão América” já valeria a pena. Mas, além disso, há outros destaques: Chris Evans parece ter entendido que este é o papel de sua vida e, apesar de sua atuação não ser nada brilhante, é notável que ele se preparou e se dedicou ao personagem. Há algumas piadas soltas ao longo do filme, mas este talvez seja o super-herói mais sério – no cinema recente – desde o Batman de Christian Bale. Vale destacar também o clima retrô do filme, que consegue nos trazer boas sensações, ainda que ele se passe em uma época tão turbulenta. Outro ponto elogiável é a falta de excesso nos efeitos especiais – ou, ao menos, a impressão que fica é a de que eles não foram utilizados exageradamente -, que dá uma maior naturalidade – se é que isso é possível – ao filme.

O ponto negativo fica, na verdade, para a distribuidora do filme no Brasil. Das duas, uma: ou cortaram a cena escondida que foi exibida nos cinemas norte-americanos – um teaser de “Os Vingadores”, que estreia em 2012 e que reúne, além do Capitão América, Thor, Homem de Ferro, Hulk e outros – após os créditos finais, ou a colocaram no fim do fim dos créditos, e com o pessoal do cinema quase te expulsando da sala não tem como assistir. Felizmente, para isso há o YouTube.

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