Conheci a música da cantora Anna Ratto totalmente por acaso. Isso aconteceu no fim do ano passado, quando fomos, minha noiva e eu, passar uns poucos dias em São Paulo. Ouvimos uma música interpretada por Anna a caminho da pousada, num táxi, e de imediato fiquei assombrado com a força da canção e também com a voz da cantora.
Assim que chegamos na pousada, fiz uma busca no Google e encontrei o site de Anna Ratto – que, até pouco tempo, utilizava “Anna Luísa” como nome artístico. Nele, pudemos ouvir todo o seu segundo disco, “Girando”, gravado em 2008. Até tentamos trazer o CD de Sampa, mas não o encontramos nas lojas que visitamos.
Isso foi em dezembro. Desde então vinha pensando em escrever um pouco sobre “Girando”. Calhou de isso acontecer justamente no dia em que haverá um show de Anna Ratto – hoje, dia 14/04, em São Paulo, no SESC Santana, a partir das 21:00. (Foi coincidência, juro.)
“Girando” traz composições da própria Anna – algumas delas feitas em parcerias com outros letristas –, de compositores como Rodrigo Maranhão (“Baião digital”) e Eugenio Dale (“Tonta”), e também releituras de músicas como “Cachaça mecânica”, composta por Erasmo Carlos e Roberto Carlos, que foi a canção que ouvimos dentro do táxi. Outros covers são: “Parabolicamará”, de Gilberto Gil; “Os pingo da chuva” (sic), dos Novos Baianos; e “No cordão da saideira”, de Edu Lobo, que conta com participação especial do próprio.
“Lágrima negra” abre o disco de maneira terna, certeira (“É água que inunda por dentro/ É aquarela/ Brisa gelada é o tempo”), uma música até difícil de encaixar em algum estilo musical. As duas canções seguintes, “Seu moço” e “Pedido ao tempo”, vão no mesmo caminho da primeira, com melodias que transmitem uma tranquilidade difícil de expressar com palavras. Em seguida vem “Cachaça mecânica”, com uma interpretação primorosa e emocionada de Anna Ratto. Confesso que não conhecia a música até então, mas arrisco dizer que é uma das melhores composições da dupla Erasmo e Roberto. “Cachaça mecânica” é quase um conto de carnaval. E é talvez a melhor canção do disco. (Confira no vídeo abaixo.)
“Baião digital”, que vem depois, não é tão impactante quanto a anterior, mas é também uma música que destoa um pouco do restante do disco, que é predominantemente alegre, delicado, como as canções que vêm a seguir: “Os pingo da chuva” (a única que não faria falta no álbum), “Cold Kiss” (letra em inglês, de Antonio Dionisio), “Parabolicamará”, “Tonta” e “Bailarina do mar”. Fechando o disco estão as belíssimas “Folguedo” e “No cordão da saideira”.
Além de ser acompanhada por músicos competentes, a voz de Anna Ratto é encantadora. Lembra um pouco a Marisa Monte do álbum “Memórias, crônicas e declarações de amor”. Suas músicas misturam samba, pop, maracatu, e até baião. Numa época carente de cantoras que prezem pela qualidade de letras e melodias, Anna Ratto é uma grata surpresa, audição obrigatória para quem gosta de boa música.