Recentemente recebi a incumbência de resenhar um livro de 700 e tantas páginas. Tivesse eu com o livro em mãos, não teria me preocupado, mas o problema é que, quando aceitei a tarefa, o livro ainda não havia sido lançado. Além disso, não havia tempo hábil para solicitar à editora e esperar chegar uma prova do livro. Eu teria de ler o livro em PDF.
(Aliás, esse foi outro fator que me levou a comprar o netbook: poder ler o dito cujo durante a viagem para Sampa.)
E, venhamos e convenhamos, ler no computador não é lá uma maravilha. Faz anos que eu leio muito aqui, que meu trabalho é aqui, diante desta telinha, mas prefiro ler no papel. Porque posso ler na cama, no sofá, sentado no chão, posso ler no ônibus. Além do mais, quem, em sã consciência, vai andar com o computador portátil no ônibus – ou no metrô – do jeito que as coisas estão?
O fato é que este episódio com o livro em PDF me fez pensar, com bastante carinho, no Kindle, coisa que até então não tinha feito. Porque sou extremamente conservador, nessa discussão sobre o fim do livro de papel e a possível hegemonia do livro digitalizado. Aliás, era.
Porque eu precisei do Kindle. Não apenas agora, mas também na viagem que fiz a Ouro Preto. Naquela oportunidade, eu tinha levado, na mochila da qual não desgrudo quando viajo, a prova do romance de Edney Silvestre e mais dois livros – porque às vezes uma leitura não “engata”, aí eu tento outra; como sou precavido, levo sempre uma terceira opção, pro caso de as duas primeiras falharem. Na volta de Ouro Preto, trouxe outro tanto de livros na mala, que comprei e ganhei por lá. O mesmo aconteceu na viagem a São Paulo: levei livros daqui pra lá, e trouxe outro tanto de livros de lá pra cá.
E isso tudo pesa, meus caros. Tive que fazer malabarismo tanto numa viagem quanto em outra, pra fazer caber os livros na mala e na mochila. Tivesse eu o Kindle, bastava levar o aparelhinho na mochila e zás! Problema resolvido.
Como em tudo na vida, o Kindle tem seus prós e contras. Os contras, na minha própria-opinião-pessoal-só-minha-e-de-mais-ninguém, são questões emocionais e práticas: como pedir ao autor que autografe no Kindle? Ou como emprestar o livro à minha noiva (uma das raras pessoas a quem empresto livros)? Teria de emprestar o Kindle inteiro… Sério, pode parecer brincadeira, mas não é. Outro ponto é que eu sou muito ligado ao livro físico. Tanto que às vezes compro livros pela capa. Às vezes paro um pouco aqui e fico admirando minhas prateleiras – isso dura alguns segundos, só o tempo de eu começar a me martirizar por não ter lido a maioria dos livros que tenho. É cada lombada bonita… Estou falando sério. Ok, eu poderia ler o primeiro capítulo de graça, no Kindle, e, a depender da obra, comprar o livro físico. É até uma boa saída, no caso de a leitura não ser urgente e eu poder esperar o livro chegar (na minha cidade só há uma livraria e muitas vezes é necessário encomendar o livro, porque eles não têm em estoque). Mas e quando a leitura é urgente? Com o Kindle, o livro “chega” ao aparelho em segundos. Aí eu compraria a versão digital e, se gostasse muito da obra, compraria de novo o livro físico.
(Se você achou as últimas frases estranhas é porque não conhece ainda uma coisa chamada “releitura frequente”. Há livros que volta e meia releio e/ou pretendo reler. Isso não é maluquice, tem bastante gente que faz isso também.)
Mas minha maior preocupação é com o fator queda. Vai que eu derrubo o Kindle e quebro ele? Cansei de derrubar livros meus ou acabar deitando por cima deles. Não é falta de cuidado, são fatalidades. Coisas assim acontecem o tempo todo, e se eu quebro um aparelho desses, vou me autoflagelar, com absoluta certeza (uma vez derrubei um HD, sem querer; celular, então, nem se fala).
(Aí você me diz que, se eu ficar pensando nesse tipo de coisa, nem celular mais eu carrego. Concordo; e só não me arrependo de ter digitado o parágrafo anterior porque não chega a ser um parágrafo tão bobo assim.)
Outro contra, para mim, é que, no momento, há pouquíssima coisa em português disponível no Kindle. Como meu inglês é bem capenga, não valeria a pena investir em um agora. E mesmo que eu quisesse, não teria grana para isso. Mas daqui a algum tempo será inevitável. Espero que, nos próximos meses, sejam disponibilizados mais livros em português, mais jornais, revistas e blogs. Para mim seria fantástico poder ler blogs e sites deitado na cama, ou no sofá, ou no ônibus. Quem sabe assim lá pra 2011 eu não compre o meu.
Se você quiser mais e melhores informações sobre o assunto, deixo aqui três links para textos sobre o Kindle. Um da jornalista Anaik Weid, publicado no jornal Brasil Econômico, outro do Alex Castro, bem detalhado e bem divertido, e outro do Julio, que ainda vai sair no Digestivo mas já pode ser acessado.
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