Um dia quase perdido

Eram quase oito horas da noite de uma sexta-feira e estava o vendedor de livros estava um tanto cabisbaixo. Além de ter vendido pouquíssimo naquele dia, não havia acontecido nada de inusitado durante o dia de trabalho. Sem comissão e sem história para contar. Um péssimo dia. Mal sabia ele que em poucos minutos adentraria a loja um garoto de mais ou menos 14 anos, e entre eles desenvolveria-se o seguinte diálogo:

– Você tem tarô aí?
– Tem sim, é logo ali.

O vendedor acompanha o garoto até a seção e volta a seus afazeres. Naquela momento, na verdade, à falta deles. Pouco depois, o garoto faz nova pergunta ao vendedor:

– Vocês vendem cartas de Magic?
– Sim, sim.
– Posso ver?
– Ah, claro, é logo ali.

Vão vendedor e garoto até as cartas de Magic. No estoque, apenas dois decks.

– Só tem esses?
– É.
– Quando deve chegar mais?
– Olha, semana que vem deve chegar mais.

O garoto devolve os decks ao vendedor e pergunta:

– Vocês vendem punhal?
– Punhal, que você diz, é punhal?

(Ao falar pela segunda vez a palavra “punhal” o vendedor faz gestos de espadachim.)

– Sim, punhal.
– Não, não vendemos.

O garoto agradece e vai embora. O vendedor fica sem entender o que teria a ver tarô, Magic e punhal. Em vez de tentar fazer alguma relação entre as três coisas, resolve procurar livros para arrumar. É melhor.

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