Train (1/2)

Um jornalista não pode – ou, talvez melhor dizendo, não deve – iniciar uma matéria, ou mesmo uma crônica, informando ao leitor que a vontade para escrever o texto surgiu depois que ele, totalmente por acaso, passou pela frente da tevê e viu algo curioso. Bom, talvez isso seja até aceitável e publicável em grandes jornais e revistas, por conta das licenças poéticas que o new journalism ou o jornalismo literário permitem (ou por conta da falta de critério de certas publicações, mas enfim). O mais correto seria dizer que um início de texto assim não é comum.

Mas um blogueiro tem essa liberdade. Ele pode escrever até mesmo um post completamente inútil e sem sentido: ninguém – ou quase ninguém – vai reclamar (quer por ele não ter audiência, se seus posts forem todos vazios assim, quer pelo fato de poucos leitores terem paciência de postar um comentário criticando o texto, mas enfim).

A questão é que ontem, totalmente por acaso, passei pela frente da tevê justamente quando, no Big Brother Brasil – programa que até já foi interessante, quando os “brothers” escolhidos não tinham, aparentemente, nenhum “empurrãozinho” de conhecidos e amigos -, se apresentava a banda de pop/rock norte-americana Train.

Conheci o Train há um bom par de anos, tenho quase certeza de que ainda na época do Napster (alguém dessa época aí?). Certeza absoluta mesmo eu tenho é de que o Train, mais especificamente o segundo disco da banda, “Drops of Jupiter”, embalou minhas desilusões amorosas entre 2001 e 2003.

“Hopeless”, quinta música do disco, começa assim: “I hopelessly, helplessly, wonder why/ Everything gotta change around me/ I turn to your face/ But you lost your face along the way” (“Estou descrente, impotente, perguntando por que/ Tudo tem que mudar ao meu redor/ Eu me viro para seu rosto/ Mas você perdeu seu rosto ao longo do caminho”). “Something more”, a oitava canção, diz o seguinte: “Feels like I’m wasting my time/ Hanging on this same old line/ Got to get you off of my mind” (“Sinto como se estivesse perdendo meu tempo/ Preso nessa ladainha [ao pé da letra seria “nessa mesma velha fala”]/ Tenho que tirar você da minha mente”).

Em seguida vem “Whipping boy”, uma canção que sempre me deixava ainda mais arrasado do que eu estava. (Engraçado como, quando sofremos por amor, fazemos questão de ir até o fundo do poço, não?) Eis uma das estrofes dela: “You spilled your purse on to my bed/ Searching for something for your head/ Since then you never come clean I mean/ You wish you only could” (“Você derramou sua bolsa sobre a minha cama/ Procurando por algo para a sua cabeça/ Desde então você esteve limpa, quer dizer,/ Você gostaria de estar [não encontrei tradução melhor, aceito sugestões]). O refrão? Simples: “Lay all you want on me/ I’ll be your whipping boy” (“Deixe tudo o que você quer comigo/ Eu vou ser seu bode expiatório”), como quem diz “deixa que eu cuido de ti”.

“Drops of Jupiter”, música que dá título ao álbum, é de longe a canção mais conhecida do Train. Fez enorme sucesso na época em que o disco foi lançado (2001). É o tipo de música que nasceu para ser hit, apesar de eu sinceramente achar que a banda não a tenha composto com esse intuito. Ela começa com um pequeno solo de piano, com a voz de Patrick Monahan dividindo o espaço com o instrumento por algumas dezenas de segundos. Depois, entra o violão e, pouco depois, os violinos. Só depois de 1 minuto e 12 segundos é que entra a bateria e a canção ganha mais dinâmica e “suingue”. Além disso, “Drops of Jupiter” tem uma letra muito bonita, que conta uma “história”. Qualquer lista digna de “melhores canções pop/rock” dos anos 2000 deve, obrigatoriamente, ter “Drops of Jupiter”, pelo menos entre as 100 listadas. (Assista ao clipe abaixo.)

Mas o Train não é só “Drops of Jupiter”. Antes dele veio o álbum sem título, lançado em 1998, e depois dele vieram mais três: “My private nation” (2003), “For me, it’s you” (2006) e “Save me San Francisco” (2009). Este último dá nome à atual turnê da banda, que está no Brasil neste momento. Ontem eles fizeram um show em Porto Alegre, amanhã farão um em Brasília e sábado, dia 19, encerram em São Paulo a passagem do grupo pelo país. Na sexta-feira falarei sobre os últimos discos da banda.

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