Eu sempre fui um tanto quanto retraído. Nunca fui de contar vantagem ou de sair divulgando uma ou outra conquista que tive aqui e ali.
Ultimamente tenho mudado um pouco isso. Contra a minha vontade, pra ser sincero. Se eu pudesse permanecer incógnito e fazer tudo o que tenho feito, seria perfeito. Mas o rumo das coisas me obriga a deixar um pouco de lado a timidez e divulgar o que ando fazendo.
Acho que foi no fim de 2005 que comecei a mandar algumas mensagens para minha lista no Orkut, divulgando o 3 Vozes, blog meu, do Thiago e do Dudu. Tínhamos sido o blog da semana do Jornal do Brasil, e depois disso me senti um pouco mais à vontade para divulgar o endereço. A idéia era expandir o blog, angariar mais leitores. Infelizmente a idéia não deu certo. O blog hoje encontra-se adormecido. Acordará no tempo certo.
Mas a questão aqui não é especificamente o 3 Vozes. A questão aqui é o “se expor”. Eu não gosto de me expor e faço o máximo para que isso não aconteça. Ao menos não de maneira desordenada e gratuita.
Aí você vem e me diz: “mas Rafael, você, escrevendo isso, já está se expondo”. Concordo. Só que estou falando de um outro tipo de exposição. A exposição de mim mesmo, nos posts aqui do blog, são apenas fagulhas de minha personalidade e absolutamente nada de minha vida. Se vocês observarem bem, aqui não há posts com detalhes de minha vida pessoal ou profissional. Eu evito falar de minha namorada, por exemplo. Agora eu a citei e deixei o link para o blog dela, só. Vai ser muito difícil vocês verem aqui algo além disso.
Também tomo muito cuidado para não falar de minha família. Apesar de já ter citado meu irmão em uma resenha publicada no Argumento, por exemplo. Mas não escrevo nada sobre meus pais, nem de bom nem de ruim, ou sobre meus irmãos. Porque quero que assim seja. É uma opção minha.
Eu escrevo para sites literários desde 2003 ou fim de 2002, a data exata não importa. E nunca fiz questão de divulgar essa informação para os que me cercam. Sempre divulguei meus textos via internet. O fato de eu escrever, seja lá o que for, me deixava – e até hoje me deixa – um pouco envergonhado.
Atribuem a Sarte uma frase que diz assim: “o inferno são os outros”. E os outros, no meu caso, não levariam fé no que eu sempre fiz, continuo e vou continuar fazendo. Nunca levaram. Ninguém me disse isso, óbvio. Mas ninguém também – salvo raras exceções – vieram ter comigo e dizer “rapaz, que legal aquele texto teu”. Ou “Rafael, que porcaria foi aquela que você escreveu?”.
Raros foram meus amigos ou colegas, daqui da cidade, que leram algo escrito por mim. Isso não me incomoda, muito pelo contrário. Acho até melhor assim. Porque se lêssem, talvez dessem uma importância exagerada aos meus escritos. E talvez me vissem com outros olhos, não sei. Não quero ser o “intelectual” da turma. O “complexado”, o “artista”. E geralmente são com esses rótulos que são definidos aqueles jovens que têm como uma de suas atividades a escrita ou qualquer outro tipo de arte séria.
Amigos meus escritores já me chamam de escritor. E há uma parte de mim que realmente pensa seriamente em se assumir como tal. Mas o “não ser” me é mais útil. Não sendo escritor tenho uma liberdade maior, um descomprometimento maior. É o mesmo com o termo “crítico literário”, que insisto em refutar. Se eu me apresentar como crítico literário, minhas palavras ganharão um peso maior do que têm, e serão observadas com mais rigor do que já são.
E eu não quero, definitivamente, isso pra mim. Assumir tanto uma coisa quanto a outra me deixará preso a certos rótulos, e não quero isso. Não agora.
Quando minha entrevista no Digestivo foi publicada, mandei novamente uma mensagem para minha lista do Orkut. E nela há mais amigos de fora do que de dentro da cidade. Mas ainda assim me preocupei com o fato de, depois de enviada a mensagem, eu receber recados do tipo “tapinha nas costas” ou cumprimentos assustados e desacreditados de pessoas de meu convívio diário, como se dissessem “coitado, mais um iludido”.
Graças a Deus isso não ocorreu. Os poucos amigos meus, daqui, que me cumprimentaram, me pareceram muito sinceros e entusiasmados. Se bem que, se me dessem os “tapinhas”, em nada me afetaria. Talvez fosse até melhor, pois seria mais combustível para mim. Mais estímulo, mais vontade de vencer.
Porque, no fundo, no fundo, tudo é uma questão de querer vencer. E se você não quer vencer, o que você quer, então? Eu quero vencer. Não quero e nem devo provar nada para ninguém. Mas quero, e muito, chegar longe. E farei o possível para que isso aconteça.
Digo tudo isso porque um dia desses, a Juliana, uma amiga minha, comentou comigo que tinha visto a entrevista. Ainda não leu, mas deixou o link guardado para ler depois. O “problema” é que a Juliana é aqui da cidade, e quando ela falou na entrevista, me desarmou. Eu não estou preparado para esse tipo de abordagem pessoalmente, ainda mais no trabalho.
E então fico a me perguntar, e quando meu primeiro livro sair? Ou quando o 3 Vozes finalmente explodir? Ou quando eu tiver de viajar para ir a algum evento literário? Ou quando, sei lá, me convidarem para um? O manto com o qual me cubro vai ter que cair, vou ter que me mostrar. É uma situação engraçada e curiosa, pois o caminho que estou seguindo é este, e não tem mais volta. E eu sabia, desde o princípio, que o resultado seria a exposição.
A única coisa que quero é poder ter a oportunidade de vivenciar tudo isso e saber, então, as respostas para as perguntas que faço agora.
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