Posts que viram textos

Na última madrugada de domingo para segunda-feira resolvi, contrariando o bom senso, ler. Eu tinha que acordar cedo para ir à universidade, mas mesmo assim peguei um livro. E justo “A cabra vadia“, de Nelson Rodrigues.

Eu havia acabado de falar com o Diogo Salles sobre uma série de coisas e acabei falando nos idiotas. Ninguém falou sobre eles melhor que Nelson. E ultimamente eu tenho visto muitos idiotas. Aliás, sempre os vi. Mas minha paciência com eles já não é a mesma de antes. E muitas vezes fico a um ponto de jogar-lhes nada cara: “Vocês são idiotas! Será que não percebem? Não passam de idiotas!” Graças a Deus, ainda consigo me controlar.

Os idiotas, aliás, além de prejudicarem toda a humanidade, até mesmo com os atos mais inofensivos – na segunda-feira pela manhã, por exemplo, uma universitária que estava ao meu lado, no ônibus, lendo algo, abriu um caramelo, colocou-o na boca e jogou o papel no chão do ônibus; e se ela jogou lixo dentro do ônibus, é bem provável que faça coisa pior, como jogar sacos e mais sacos de lixo em terrenos baldios, por exemplo – me deixam um tanto triste por outros motivos. Porque eu não sou um idiota em relação a eles, mas não ser um idiota em relação a eles pode não ser lá um bom negócio, também. A coisa está nivelada por baixo, sabe? De que adianta passar num vestibular em que seus concorrentes são burros feito portas?

Mas, voltando, era madrugada e comecei a ler “A cabra vadia”. A prosa de Nelson Rodrigues é linda, retumbante, magnífica. É perfeita, eu diria, se não aparecesse alguém para dizer “nada nem ninguém é perfeito”. Reconheço que talvez fosse um exagero de minha parte. Digo então que a prosa de Nelson beira a perfeição.

Eu já escrevi sobre Nelson. Já o chamei de gênio. Continuo chamando e, num texto a ser publicado não sei exatamente quando, o chamo de gênio mais outra vez. A propósito, este post é sobre esse texto.

Lendo as crônicas de “A cabra vadia”, me veio a vontade de escrever sobre o livro. Sim, fazer logo uma resenha sobre ele. Afinal, faz um bom tempo que a editora me enviou, e eu nada de ler. Mas, pensei comigo, seria melhor resenhá-lo depois de lê-lo por inteiro. Não estou tão desesperado assim. Desisti da resenha e continuei a leitura, já não pensando em mais nada. Até o momento em que resolvi escrever sobre os idiotas. Sim, novamente eles. Escrevi sobre eles no domingo, antes de ler Nelson, vocês viram. Mas, mesmo assim, pensei em escrever novamente sobre eles. Os idiotas me incomodam. E muito. Eu tenho nojo dos idiotas. Para mim, eles poderiam perfeitamente ser eliminados, ou teletransportados daqui, tanto faz. A questão é que os idiotas deveriam não mais existir. Para não ser tão cruel, eles poderiam ser isolados numa ilha, a Ilha do Idiotas, e lá viverem da maneira como bem entendessem, até a sua inevitável e sensacional (auto)extinção.

Enrolei, enrolei, e não cheguei ainda no ponto chave deste post. Como eu dizia, pensei em escrever sobre os idiotas. Mas, como já havia escrito no domingo sobre eles, achei melhor mudar de idéia. E fui dormir.

Na verdade, tentei dormir, mas não consegui. É quase sempre assim: depois de ler algo na madrugada, vem a necessidade de escrever. Levantei, liguei novamente o computador e, quase embriagado de sono, comecei a escrever um post. Que foi crescendo, crescendo, e me parece que se tornou o melhor texto que já escrevi até hoje. Encharcado de Nelson, é verdade. E talvez por isso mesmo seja o melhor que já escrevi. Ao menos foi essa a primeira impressão. Nos próximos dias farei uma releitura do material. Publicado ele será, certamente. Só não sei ainda quando. Aguardem.

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