A Cassia
Apesar de ser mais conhecido por suas músicas e seus poemas, Vinicius de Moraes foi também um exímio cronista. Seus textos, a maioria refinados e bem-humorados, são invejáveis, e o cronista que tentar escrever como Vinicius morrerá tentando – muito provavelmente de raiva.
Porque tentar escrever como Vinicius, principalmente sobre amor, só leva a um sentimento: frustração.
Talvez tenha sido por isso que, depois de tanto tentar e não conseguir, desisti de ser cronista. Engraçado: gênero às vezes tão desprezado e subestimado, a crônica – a boa e verdadeira crônica – é para poucos.
É claro que volta e meia pinta a vontade de arriscar um pouco e cometer um texto à la Vinicius, Fernando Sabino ou Rubem Braga. E lá vai o aspirante ser mais uma vez humilhado pela falta de talento. Nesse caso, a prática leva à frustração.
Isso quando o aspirante mantém longe dos olhos de terceiros seu atentado contra a literatura. Porque há quem mostre por aí, sem pudor, seus arremedos de crônicas. Nesse caso, a lástima – no caso, o texto – leva à humilhação.
E não adianta citar, para tentar se salvar, trecho de alguma crônica famosa, como “Para viver um grande amor”, do próprio Vinicius, que, entre outras coisas, diz assim: “Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer ‘baixo’ seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor”.
Tampouco adianta se valer de ocasião importante para tentar justificar o atentado. Por mais que seja uma data especial, como é a comemoração de 6 anos de relação.
Mas, é claro, há quem não se importe em passar vexame e, além de escrever e publicar uma croniqueta meia-boca, a dedica à bem-amada. Casos assim, de paixonite aguda, não têm cura. O jeito é deixar o aspirante sonhar acordado e escrever seus escritos tresloucados. À bem-amada só resta fingir-se de envaidecida, apesar de um tanto constrangida.
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