De uma matéria sobre a Copa de Literatura no Prosa&Verso do último sábado, caí no artigo “Not everybody’s a critic“, do crítico americano Richard Schickel.
Vocês sabem, meu inglês ainda é uma porcaria, mas de vez em quando consigo me virar. Abaixo alguns trechos do artigo, minha “tradução/adaptação” deles (devidamente feita com a ajuda de um dicionário) e alguns comentários meus.
A tradução não está boa. Caso alguém queira, pode me enviar uma tradução decente, para eu colocar aqui. Darei os devidos créditos.
“Criticism – and its humble cousin, reviewing – is not a democratic activity. It is, or should be, an elite enterprise, ideally undertaken by individuals who bring something to the party beyond their hasty, instinctive opinions of a book (or any other cultural object). It is work that requires disciplined taste, historical and theoretical knowledge and a fairly deep sense of the author’s (or filmmaker’s or painter’s) entire body of work, among other qualities.”
“A crítica – e seu primo pobre, a resenha – não é uma atividade democrática. É, ou deveria ser, uma atividade de elite, idealmente realizada por indivíduos que trazem algo além de sua pressa e opiniões instintivas a respeito de um livro (ou qualquer outra obra de arte). É um trabalho que requer um gosto refinado, conhecimento histórico e teórico e uma completa percepção de todo o trabalho do autor (ou cineasta ou pintor), entre outras qualidades.”
Pra vocês verem: Schickel chama a “resenha” de “primo pobre” da crítica. Tudo bem, eu concordo, não vou querer bater nele por causa disso. Agora, vejam a responsabilidade que ele dá ao resenhista, vejam o que ele cobra de um resenhista. Não acho que se deva cobrar menos que isso. Mas, e isso está aí pra todo mundo ver, algumas pessoas que comentam livros fazem isso de uma forma totalmente arbitrária. Por mais que eu não concorde inteiramente com a questão do “deep sense of the author’s (or filmmaker’s or painter’s) entire body of work”, Schickel tem razão. Como escrever sobre um livro sem conhecer, mesmo que pouco, o autor? É necessário saber quem ele é, de onde ele vem, quando ele nasceu, quando escreveu o livro, se houve alguma motivação especial ou não…, enfim, pesquisar sobre o autor e sua obra (tanto a que será objeto de resenha quanto as outras).
“Opinion – thumbs up, thumbs down – is the least important aspect of reviewing. Very often, in the best reviews, opinion is conveyed without a judgmental word being spoken, because the review’s highest business is to initiate intelligent dialogue about the work in question, beginning a discussion that, in some cases, will persist down the years, even down the centuries.”
“Opinião – polegares pra cima, polegares pra baixo – é o aspecto menos importante da resenha. Com muita freqüência, nas melhores resenhas, a opinião é transmitida sem que uma palavra de julgamento seja dita, porque o maior negócio da resenha é iniciar um diálogo inteligente sobre a obra em questão, iniciando uma discussão que, em alguns casos, persistirá ao longo dos anos, quem sabe até ao longo dos séculos.”
É um outro ponto que não concordo inteiramente, mas acredito que ele tem razão. Uma resenha, para ser boa, não precisa dizer que o livro é bom ou ruim. Ela pode perfeitamente falar sobre a obra, sobre o autor, sobre a relação da obra com a realidade. Isso tudo sem dizer que a obra é boa ou ruim. É claro que há muitos críticos e resenhistas que classificam obras, é um direito deles e não vejo mal nenhum nisso, desde que eles justifiquem o motivo da classificação. Não esquecendo que o crítico, na justificativa, precisa deixar claro – ou ao menos nas entrelinhas – que aquela é a sua opinião.
“And we have to find in the work of reviewers something more than idle opinion-mongering. We need to see something other than flash, egotism and self-importance. We need to see their credentials. And they need to prove, not merely assert, their right to an opinion.”
“E nós temos que encontrar no trabalho dos resenhistas algo mais que opiniões preguiçosas. Nós precisamos ver outras coisas, não lampejos, egolatria e ‘auto-importância’. Nós precisamos ver suas credenciais. E eles precisam comprovar, não simplesmente declarar, seu direito de opinar.”
“Auto-importância” pode ser substituída por “arrogância” ou “demonstrações gratuitas de conhecimento”. É o típico crítico que, ao criticar A, evoca B, C, D, E, F, G, H e todos os mortos que ele puder citar, para fundamentar seu texto. Não acho que fazer isso, de maneira moderada, seja ruim, muito pelo contrário. O perigo está, como quase sempre, no excesso. Existem resenhistas que gostam de comparar uma obra com uma outra. Não há nada de errado nisso, apesar de eu pessoalmente evitar fazer comparações. Mas quando se faz uma comparação de uma obra com uma outra, há o perigo de o foco do texto ser desviado para a obra que não deveria ser objeto da resenha. Tentarei explicar melhor: estou escrevendo uma resenha do livro “A”, lançado há pouco tempo, que não considerei tão bom. E aí o comparo com o livro “B”, lançado há cinco anos, considerado uma obra-prima de um autor falecido. Se eu falar muito no livro “B”, se os elogios a ele forem entusiasmados demais, o livro “A” ficará em segundo plano, e a resenha não será sobre “A”, mas sim sobre “B”.
Realmente, nem todo mundo é um crítico. Eu não sou um, longe disso. No máximo, um resenhista. E, na escala Schickel, com muita boa vontade, um resenhista razoável. Mas vamos caminhando.