Nas eleições de 2006, as pesquisas apontavam, aqui na Bahia, uma vitória acachapante do candidato do então PFL – hoje DEM – Paulo Souto, que lutava pela reeleição. O que se viu, durante e após a apuração das urnas, foi uma das derrotas mais constrangedoras de toda a política brasileira: o então candidato do PT, Jaques Wagner, venceu a eleição já no primeiro turno.
Isso é só um pequeno exemplo de que pesquisas podem ser – e geralmente são – falhas, isso quando não são tendenciosas, falsas…
As últimas pesquisas referentes às eleições presidenciais revelam que a candidata do PV, Marina Silva, vem aumentando o número de eleitores, apesar de não ter uma intenção de votos suficiente para ultrapassar o candidato José Serra, do PSDB. Estima-se que Marina tenha entre 11% e 15% das intenções de voto. Eu, sinceramente, não acredito nesse número.
Longe de acusar institutos de pesquisa de fraude etc., apenas acho que o desempenho de Marina seja um pouco maior. Hoje, o perfil oficial da candidata no Twitter tuitou – agora é verbo, tá lá no Aurélio – que, quando ela se candidatou pela primeira vez ao senado, pelo estado do Acre, as pesquisas a colocavam em 4º (quarto) lugar na disputa, até a última pesquisa.
A situação da corrida presidencial não é das melhores. Afinal, tudo indica que Dilma Rousseff, candidata do PT, seja eleita no primeiro turno. Mas há uma série de fatores que podem indicar uma surpresa agora, na reta final.
Um desses fatores é o desempenho de Marina nos debates. Sempre equilibrada, mas até outro dia com uma agressividade muito baixa, a candidata do Partido Verde se mostrou muito decidida no debate de ontem, transmitido pela rede Record. Marina teve, de longe, o melhor desempenho. Muito segura em suas afirmações, transmitiu não apenas serenidade e bom senso, mas também pulso firma e autoridade.
Se por um lado nenhum dos candidatos são acusados diretamente de corrupção, é possível fazer uma série de questionamentos sobre todos eles. Plínio de Arruda Sampaio, que tem o menor desempenho entre os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas, é combativo, questionador, mas algumas de suas ideias remetem ao século XIX. Ontem ele chegou em falar, com todas as letras, em controle da imprensa, justamente quando a maioria dos grandes veículos acusa o PT de controlar a impresa. O que é muito engraçado, já que os ataques ao PT e a Lula partem de todos os lados, muitas vezes sem qualquer fundamento.
José Serra, como deu na Folha de São Paulo outro dia, é um mestre em prometer e não cumprir. A promessa mais risonha do candidato tucano é o salário mínimo de 600 reais. E aí pergunto a você: se salário mínimo pudesse ser aumentado assim, de uma hora para a outra, em 90 reais, o próprio FHC não teria feito isso? Afinal, salário mínimo é a forma mais legal que existe de se comprar votos.
Já Dilma Rousseff é candidata do partido no qual sempre depositei confiança e esperança – isso até o escândalo do mensalão. Quase todo mundo lembra que o PT, quando assumiu o governo federal, tinha como uma de suas principais bandeiras a ética. Esperava-se de Lula e companhia, além do combate à corrupção, uma grande distância dela. E não foi o que vimos. O que se viu e se vê são membros de todas as alas e esferas do PT se beneficiando da máquina pública.
Ao se mostrar relativamente bem colocada nas pesquisas, com uma campanha equilibrada, sensata e alheia aos escândalos, que tem como objetivo maior apresentar propostas e discutir de verdade os problemas do Brasil, em vez de propor meros paliativos, Marina Silva prova que é possível ter êxito sendo honesto, íntegro, sem apelar para a baixaria. E foi isso que ela mostrou ontem, no debate promovido pela rede Record.
Sinto que a maioria das pessoas não vota de maneira fria e racional. O peso do partido, da história do partido que apoiam ou pelo qual têm simpatia, é muito maior que a análise fria da situação. Marina Silva é a única candidata capaz de se cercar dos melhores integrantes de todos os partidos – em vez de se juntar aos piores, como fez Lula ao se aliar a José Sarney, Fernando Collor de Melo e outros tantos. É a única capaz de romper com a escória da política e realizar profundas mudanças neste país, a exemplo da que fez Barack Obama no sistema de saúde norte-americano.
Tal como Barack Obama para os EUA, anos atrás, Marina Silva é a única esperança de algo novo para o Brasil. É uma pena que muita gente não tenha percebido isso ainda.