Se você não sabe, o Paiol Literário é um evento promovido pelo jornal Rascunho em parceria com o Sesi Paraná e a Fundação Cultural de Curitiba. Todo mês um escritor é convidado para uma conversa mediada pelo crítico José Castello – que muito admiro – e trechos da conversa são publicados no Rascunho (aliás, se você mais que gosta de literatura e não é assinante do jornal, não sabe o que está perdendo).
No mês de outubro o escritor convidado foi João Paulo Cuenca, mas desta vez José Castello não mediou a conversa. Assumiu a tarefa o infalível Rogério Pereira, editor do Rascunho. Os trechos do encontro ainda não estão disponíveis no site do jornal, mas como recebi a edição deste mês ontem, adianto pra vocês dois trechinhos:
“A gente tem que ter consciência de que o público leitor é pequeno. Os escritores, hoje, têm uma função quase que de evangelizadores. Você tem que chegar aos lugares e falar sobre você e seus livros. E essa tem que ser uma atividade constante. Ocupar os jornais, a imprensa, a televisão, o cinema. Ocupar todos os espaços e brigar por isso, porque a gente está perdendo a briga. Para a tevê, para o cinema, para a internet e todo o resto.”
Antes eu discordava do que JP Cuenca diz; pensava que os escritores não tinham nada a ver com isso, e que o problema era dos professores, que não ensinavam corretamente literatura em sala de aula. Mas hoje concordo e acho que nós, profissionais das letras ou não, amantes da literatura, devemos fazer o máximo para “converter” o maior número de pessoas.
“Acho tudo muito desconfortável. Realmente acho infernal. Tem gente que diz que tem muito prazer quando escreve. Eu não tenho nenhum. Eu tenho quando termino. Termino de escrever um parágrafo, releio aquilo. Não existia antes, agora existe. Eu fiz isso. É um prazer lindo. Agora, na hora que estou brigando contra mim, é um confronto muito violento. Porque sou um leitor horrível do que escrevo. O que publico, eu não posso nem abrir. Já saio rabiscando. Não consigo. Se leio em voz alta, já mudo as coisas de lugar. É horrível. Tenho de publicar para parar de revisar, de ficar fuçando.”
E é justamente assim. Sentar numa cadeira, olhar o documento do Word ainda todo em branco e pensar em como começar uma história ou como continuar uma já existente não é situação das mais agradáveis. Mas, depois de muito custo, ver que a quota do dia foi preenchida, é uma vitória. Por outro lado, ser vencido pela tela em branco, pela falta de qualidade do que foi escrito ou simplesmente pelo cansaço – e, neste caso, sequer ter forças para abrir um novo documento no Word – é a pior derrota que pode ter um escritor.