Heróis alvinegros


* Crédito da imagem: site oficial do Botafogo

O jornalismo esportivo brasileiro perdeu, há menos de um mês, “O Machado da grande área”, nas palavras do sempre preciso jornalista Sérgio Augusto. Me refiro a Armando Nogueira, falecido no último 29 de março. Botafoguense de coração, Armando deve estar muito feliz agora, aonde quer que ele esteja, com o título conquistado ontem pelo Botafogo (em cima do Flamengo) de campeão carioca de 2010.

Em uma das crônicas do livro “A ginga e o jogo”, Armando fala sobre o amor que sentia pelo time: “Amar um clube é muito mais que amar uma mulher. Ao longo da vida, troquei de namorada, sei lá, mil vezes. E outras mil fui trocado por elas, mas a recíproca não está em jogo, agora. Jamais trocaria o Botafogo, nem por outro clube, nem por nada, neste mundo”.

Entendam: Armando Nogueira não torcia pelo Botafogo: ele amava o Botafogo.

O Glorioso, como também é conhecido o alvinegro carioca, vinha há três anos perdendo o título carioca para o Flamengo. Foi assim em 2007, 2008 e 2009, sempre amargando o vice-campeonato. Se vivo estivesse, Nelson Rodrigues certamente citaria a si mesmo, dizendo que “Há um urubu pousado na sorte do Botafogo!”. Ontem, depois de confirmado o título, Nelson revisitaria mais uma vez os seus arquivos e diria que “quando o urubu cochilou ou, melhor, quando o urubu mudou de assento, o Alvinegro largou-se como búfalo enfurecido, como um javali ensanguentado, dando marradas em todas as direções. Eu não sei se javali dá marradas, mas não encontro outra imagem para descrever, em todo o seu horror, a incorcível fúria botafoguense”.

Como não poderia deixar de ser, o jogo foi sofrido, disputado, repleto de momentos em que os torcedores do Botafogo certamente se lembraram dos três trágicos anos anteriores. Tanto que o técnico do time alvinegro, Joel Santana, durante a entrevista coletiva pós-jogo, declarou o seguinte sobre seus jogadores: “Eles não vieram aqui para ser guerreiros. Eles vieram aqui para ser heróis”.

E assim foi.

***

Ver o Botafogo novamente sagrar-se campeão – o último título fora conquistado em 2006 – é bom não apenas para os torcedores botafoguenses: é bom para o futebol. Um time como esse não merece todos os tropeços e fracassos que vinha acumulando nos últimos anos, sendo inclusive ameaçado de rebaixamento no Campeonato Brasileiro. E não, não sou botafoguense: sou são-paulino, mas estou feliz pelo time carioca.

Para encerrar a conversa, mais um trecho da crônica “O Botafogo e eu…”, de Armando Nogueira:

“O Botafogo é bem mais que um clube – é uma predestinação celestial. Seu símbolo é uma entidade divina. Feliz da criatura que tem por guia e emblema uma estrela. Por isso é que o Botafogo está sempre no caminho certo. O caminho da luz. Feliz do clube que tem por escudo uma invenção de Deus.

Estrela solitária.”

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