“Fernando Sabino, escritor profissional em país de amadores, trinta anos de sucesso, desde o lançamento do romance de estréia O encontro marcado, publicado em 1956. Êxito tão grande, o autor se assustou, ficou com medo que um segundo romance não saísse à altura do primeiro, emigrou para a crônica, gênero do qual fez-se mestre, crônica sempre marcada pelo ficcionista em férias. O susto durou vinte e cinco anos quando por fim o estreante de O encontro marcado publicou O grande mentecapto, o segundo romance repetiu o sucesso do primeiro. Seguiu-se um terceiro, O menino no espelho, obra-prima, livro de Fernando Sabino de minha preferência. Três romances, dúzia e meia de volumes de crônicas, contos, viagens, entrevistas deram a Sabino posição excepcional em nossas letras, público enorme e fiel, sempre crescente. Tanta fama, uma fábula de direitos autorais, traduções, adaptações, viagens aos States, à Europa e para culminar o indivíduo se anuncia baterista de jazz, ah, insuportável! A ordem correu entre a gentalha: vamos acabar com ele.
Não foram razões literárias, discordâncias estéticas que ditaram a opinião dos críticos, quem a comandou foi a inveja cumprindo ordem emanada dos calhordas: vamos acabar com ele. Aliás, alguns articulistas escreveram horrores do livro, do autor e da biografada, declarando ao mesmo tempo que por precaução não haviam lido Zélia, uma paixão. Boa crítica é isso, se querem saber, o resto é bobagem, atraso de uns pobres-diabos por aí.”
Jorge Amado, em um “livro memórias que jamais escreverei”, “Navegação de cabotagem“, sobre Fernando Sabino e a “tempestade que desabou sobre a cabeça de Fernando Sabino, motivada pela publicação de seu recente Zélia, uma paixão, biografia romanceada, a vida e os amores da ex-Ministra da Economia, Zélia Cardoso de Melo, ainda tão jovem e já tão fala, o nome na boca do mundo.”
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