Ser escritor não é apenas escrever, publicar e receber elogios. Ser escritor é não conseguir escrever, levar dias, meses, anos para finalizar um conto ou romance; é ler muito, escrever mais ainda e jogar muitos escritos no lixo. É saber limpar no texto, é escrever 10 páginas e aproveitar duas.
Além disso, e de outras coisas que não falei por falta de memória ou por não saber mesmo, ser escritor é saber lidar com as críticas e com os críticos. É saber que, para o crítico, pouco importa quantas noites ele passou em claro, ou quanto de dinheiro ele investiu no livro. O crítico não é pago – muitas vezes ele nem é – para sentir peninha de escritor nenhum, nem ser condescendente com a falta de qualidade de ninguém.
Então, voltando a um assunto que já abordei aqui, me irrita ver escritor reclamando de resenha que não elogia seu livro. Mas me irrita mesmo. E só não digo que é algo altamente imbecil de se fazer porque não quero angariar desafetos.
O caso é que, e já estou cansado de dizer (e de ouvir dizer), entrou na chuva, vai se molhar. Publicar um livro, ou mesmo que seja algum texto na internet, é arriscado. Pode chegar qualquer um e dizer que não gostou, que achou ruim. E todo mundo que escreve sabe disso. Chega a ser ridículo comentar isso de novo. Todos deveriam saber – acho que sabem, mas gostam de reclamar só para serem chatos – que a resenha de um livro não define nada. Nem uma resenha, nem duas, nem três. As opiniões podem ser – e ainda bem que são – muitas. Um crítico pode não gostar, outro vai e gosta, um terceiro diz que é uma obra-prima e um quarto diz que é a grande bomba dos últimos tempos. Imaginem se toda resenha fosse boazinha, favorável. Ia ser um saco.
Então, por favor, se você tem algum amigo ou amiga escritor, peça para que ele/ela não se chateie muito quando ler uma resenha não elogiosa. Só em ter o livro resenhado, já é uma vitória. Ou não? Quantos e quantos livros não ficam sem resenha, pobrezinhos? E podem até ser livros bons. Vejam o caso de “Fichas de vitrola & outros contos“, seleção de contos de Jaime Prado Gouvêa (mais três inéditos), publicado este ano, por exemplo. Jaime Prado nasceu em 1945, tem vários livros publicados, fez parte do Suplemento Literário de Minhas Gerais (criado por Murilo Rubião), publicou vários livros, ganhou prêmios. Nada disso fez com que “Fichas de vitrola & outros contos” ganhasse sequer uma nota em qualquer blog na rede. Ao menos não encontrei nada na busca que fiz no Google. Então, se um cara como o Jaime Prado (pelo pouco que li dá pra ver que ele é bom) lança um livro pela maior casa editorial do país (se não me engano) e ninguém resenha, como é que um escritor novo ou velho, seja ele bom ou ruim, reclama de seu livro não ter sido elogiado?
Façam-me o favor…
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