Pelo (pouco, apenas alguns emails trocados e textos dele que li) que conheço do Milton Ribeiro, posso dizer que ele é um cara legal, tranquilo, fanático por futebol, gosta de boa música, é um bom leitor (e crítico) de literatura, além de ser apreciador da beleza feminina. Mais além disso ainda, torce para o Internacional, é casado e tem filhos – quem acompanha o blog do Milton sabe que ele é um daqueles “caras de família”, e nota-se que a família dele é o que ele mais preza no mundo.
Mas saber disso não adianta de nada, porque vivemos em tempos estranhos. Hoje, um cara como o Milton não pode sequer criticar um livro e sua autora. Porque dá processo.
Se vocês não sabem ainda, a escritora Leticia Wierzchowski – de quem eu tenho e quero ler “Uma ponte para Terebin” – está processando o Milton, apenas porque ele fez alguns comentários a respeito de um livro dela (a saber, “A casa das sete mulheres”, que deu origem àquela minissérie da Globo) e a um texto dela sobre uma edição em espanhol do livro “A maleta do meu pai”, de Orhan Pamuk.
Não conheço a Leticia Wierzchowski mas a admirava, porque “Uma ponte para Terebin” é uma homenagem que ela faz ao avô, e coisas assim, de família, me emocionam bastante. Fico comovido. Eu mesmo quero homenagear de alguma forma meus avós, algum dia, em forma de livro. Mas enfim.
Quando soube desse processo, achei ridículo. Pensei no que passou pela cabeça de Leticia Wierzchowski para ela querer processar o Milton. O post dele não tem nada de mais, apenas aponta alguns erros em seu livro, e também no texto sobre o livro do Pamuk. Qualquer um tem todo o direito de achar que não se deve apontar erros assim, em público, mas aí é questão de opinião. Se um escritor publica algo, ele está sujeito a isso. O Lula, quando fala errado, todo mundo faz piada. Um escritor, quando erra, a gente não pode falar? Que país é esse, Renato Russo?
Hoje o Milton colocou no blog dele parte da ação que Leticia Wierzchowski está movendo contra ele. A ação é ridícula, risível. O advogado dela, o mesmo de Roberto Carlos, no caso daquela biografia dele que foi impedida de ser vendida, parece ser mesmo um fanfarrão.
Leticia Wierzchowski é uma escritora com uma bela carreira, de bastante sucesso, pode-se dizer. Esse processo movido contra Milton Ribeiro é uma mancha na sua trajetória. Uma enorme mancha, que pode inclusive sujar tudo o que ela já fez de bom. (Depois dessa, eu, se já não tivesse “Uma ponte para Terebin”, não gastaria nem 1 centavo com livros dela. E nem vou gastar, lerei somente ele, e olhe lá. É uma espécie de boicote.)
Esse processo é, também, uma prova de como a justiça brasileira é frágil, pois se há precedentes para que alguém possa processar alguém por causa de um post inofensivo como o do Milton, podemos agora processar quem pisou no nosso pé ou quem fizer piada com nosso nome (quem falar “Rafael, Rafael, cara de pastel” tá ferrado, vou processar!).
Espero que a Leticia Wierzchowski desista do processo, ou que nenhum juiz idiota dê ganho de causa a ela. (Será que, se ela ganhar isso, posso ser processado porque chamei um juiz de idiota bem antes de sair o resultado da ação?)
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E por que a gente pode chamar os políticos de ladrão, xingar as mães dos juízes de futebol e não pode sequer falar uma bobagenzinha sobre livros e escritores? Arre, esse mundo está ficando nervosinho demais.
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