“Escrevo em folhas de papel. Você recolhe e guarda, temendo desaparecerem. Alguma coisa se perderia se elas nunca fossem lidas? Talvez nada, porque escrevo apenas para me livrar da memória. Esses rabiscos são o meu esquecimento. Lembra as pinturas rupestres nas paredes da caverna que visitamos? Alguém desejava livrar-se da memória que o incomodava e pôs-se a desenhar e pintar nas pedras. Escrever é a maneira mais simples de morrer, embora muitos achem que é o único modo de permanecer vivo. Sílvia não gosta que eu fale dessas coisas, pois teme a morte. Por isso ela não dorme nunca, a não ser quando se enche de remédios.”
O trecho acima foi escolhido para figurar na quarta capa do livro de contos “Retratos imorais”, de Ronaldo Correia de Brito. (Os grifos são meus.)
Assim que terminei de ler o trecho, folheei o livro em busca do conto do qual ele faz parte. Não demorou muito para encontrá-lo: “Toyotas vermelhas e azuis”, uma história belíssima que preciso reler em breve.
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