* Quem acompanha o blog já sabe: na revista Conhecimento Prático Literatura nº 28 foi publicada uma entrevista que fiz com o escritor Antonio Carlos Viana, por ocasião da publicação recente do seu livro “Cine Privê”. Como a entrevista já pode ser lida no site da revista, e como houve alguns cortes na introdução que fiz para ela, resolvi publicá-la – a introdução – aqui no blog. A diferença é pouca, mas ainda assim aí vai.
Pode-se dizer que o contista sergipano Antonio Carlos Viana escreve sobre o inevitável e o inusitado da vida. Mas também sobre o risível, o ridículo, o irremediável. Sua prosa é rápida, simples, calculada, o autor não se perde em devaneios ou tergiversações. Seus contos são breves, porém fortes, impactantes.
“Cine privê”, seu terceiro – e mais recente – livro de contos, é uma obra de rara qualidade e simplicidade. Não obstante a diversidade e as virtudes da literatura brasileira contemporânea, poucos são os escritores que conseguem realizar obras tão coesas e harmoniosas. E tão sóbrias. Há, nos contos de “Cine privê”, temas e situações que os autores mais jovens adoram abordar em seus livros, como sexo e violência gratuita. Mas Viana os aborda por outros prismas: sexo se transformar em sensualidade; e violência em crueldade. O que falta à maioria dos nossos escritores – talvez pela idade ou pela inexperiência, ou mesmo pelo pouco talento – sobra em Antônio Carlos Viana: classe.
A grande maioria dos personagens dos contos de “Cine privê” vive em situações precárias. São pessoas que estão prestes a perder seu lar (“Santana Quemo-Quemo”), que são reféns de um subemprego (“Cine privê”), ou que precisam andar quilômetros para enterrar um morto (“Nós, a maré e o morto”), por exemplo. Mas há também histórias de personagens que descobrem seu primeiro amor (“Eliazar, Eliazar”) ou sua sexualidade “Esperanza”; e há, ainda, histórias engraçadas, mas não felizes (“Tina e as forças cósmicas”), e contos sutis e delicados (“Quando meu pai voltou”).
Apontado por muitos como um dos mestres do conto contemporâneo – suas obras anteriores (“Aberto está o inferno” e “O meio do mundo e outros contos”) são elogiadíssimas –, Antonio Carlos Viana, apesar de utilizar em suas histórias personagens pobres e sofridos, diz não ser um escritor engajado. E mesmo que em alguns contos trágicos ou tristes haja uma ponta de esperança, o autor não se diz otimista, mas sim um “pessimista em último grau”. Na entrevista a seguir, realizada por e-mail, Antonio Carlos Viana fala sobre sua carreira, sobre “Cine privê” e sobre a literatura brasileira contemporânea.