Finalmente tenho alguns minutos de tranquilidade para escrever sobre a Bienal do Livro Bahia, que aconteceu em Salvador entre os dias 17 e 26 de abril. Os últimos dias foram punks, por assim dizer. (E os próximos vão ser também.)
Por motivos financeiros e profissionais, eu não poderia ir ao evento todos os dias. Então, escolhi três que me seriam úteis e agradáveis. Cássia me acompanhou em todos eles – 18, 20 e 21 -, como vocês já sabem.
A escolha do dia 18 foi motivada principalmente pela presença de Alberto Mussa no Café Literário. Como vocês já estão cansados de saber, fiz uma entrevista com Mussa e essa entrevista me rendeu uma matéria na revista Brasileiros e uma coluna no Digestivo. Ele me atendeu com extrema boa vontade, por email, e não fosse isso, não teria matéria nem coluna nenhuma. Queria muito agradecer pessoalmente pela entrevista e foi o que fiz. Quase não dá tempo, porque o Café começou atrasado e extrapolou o horário. Como tínhamos comprado a passagem de volta quando chegamos a Salvador, não poderíamos sair da Bienal a hora que bem quiséssemos. Mas felizmente tudo deu certo e pudemos cumprimentar o Mussa. Nesse dia não passeamos muito pelos corredores, porque chegamos um pouco tarde e tal, mas foi bem legal.
Ponto fraco do dia 18: o Café Literário teve também a participação de Aleilton Fonseca, de quem fui aluno na faculdade e cujo “Nhô Guimarães” eu li, gostei muito e resenhei. No Café, Aleilton tergiversou um tanto e deu margem para que certas figuras ilustres (as quais desconheço) de Feira de Santana, Salvador e adjacências fizessem perguntas dignas de serem teses de mestrado. Imaginem, então, as respostas. Bola fora para os professores que quiseram “aparecer” quando o foco deveria ser o tema do Café, os autores presentes e suas obras.
No dia 20 fomos mais cedo. Almoçamos em Salvador, uma macarronada deliciosa. Era o dia para “rodarmos” bastante pelos estandes e era também um dia especial: eu tinha marcado uma conversa com o escritor e jornalista Zuenir Ventura, antes da participação dele na Bienal, também no Café Literário. O Zuenir demonstrou ser uma pessoa fora de série. Eu, que pensei que ficaria nervoso ao falar com ele, fiquei tranquilíssimo, mas por causa dele, que começou a conversar calmamente conosco e me transmitiu a tranquilidade necessária para lhe dirigir a palavra sem gaguejar muito. O mais incrível disso foi que, depois da conversa que tivemos sobre um assunto específico já informado por email, ele respondeu a perguntas totalmente fora do tal assunto e, mais incrível ainda: depois de findas as perguntas todas (poucas, umas 5, acho), ele ficou conversando conosco, mesmo tendo horário marcado para ir para a Bienal – para sorte nossa, o hotel fica na frente do Centro de Convenções; não fosse isso, não teríamos essa tranquilidade toda. E algo que achei mais sensacional ainda e comentei com Cássia umas duas ou três vezes: em momento algum – EM MOMENTO ALGUM – o Zuenir olhou para o relógio.
Ponto fraco do dia 20: como no dia 18, não houve mediador no Café Literário. Os espectadores é que faziam as perguntas. Na minha opinião, isso é um erro, deixar um evento desses sem mediador. O certo, para mim, é ter alguém que conheça a obra de ambos os convidados e que possa conduzir a conversa deles com a devida discrição mas também com bons questionamentos e observações. Deixar isso com o público é um risco, porque muitas vezes as pessoas têm maior interesse em serem olhadas por todos, em se mostrar para os outros, do que simplesmente fazer uma boa pergunta. Foi o que aconteceu nesse dia, quando um jornalista baiano pediu a palavra para fazer, sim, uma pergunta, mas acabou também falando para todos que estava escrevendo um livro, e falou a sinopse do livro, e disse que estava sendo difícil escrever o livro, e que o livro era isso e era aquilo… Ou quando uma recém-formada em comunicação social meteu o ethos dela no meio da pergunta, entremeada de “tipo assim”, “é”, “sei lá”, e ainda, numa segunda pergunta, divulgou o endereço do blog dela. Coisas assim me deixam constrangido.
Dia 21 era pra termos saído logo depois do almoço, mas eu me atrasei e acabamos chegando bem tarde em Salvador. O que foi uma pena, porque não aproveitamos muito. Por outro lado, foi um dia bastante especial. Primeiro, porque foi o aniversário de Cássia. Depois, porque foi o dia em que finalmente conheci pessoalmente o escritor Ronaldo Correia de Brito, com quem troco emails desde 2005 e por quem nutro um carinho muito grande; e porque foi também o dia em que conheci também pessoalmente minha amiga Mila, um amor de pessoa e que deu a Cássia um belo presente de aniversário: a possibilidade de comprar a “Fotobiografia de Clarice Lispector” por meros 45 reais. A Mila já tinha comprado uma e nos levou até o estande onde Cássia comprou o último exemplar.
Ponto fraco do dia 21: meu atraso e a consequente falta de tempo maior para aproveitar o nosso último dia de Bienal.
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Como sempre, comprei alguns livros. Bem menos que na Bienal anterior e na de 2005, é bom que se diga. Mais por conta do controle que estou conseguindo ter, com a ajuda fundamental de Cássia, e também porque acabei encontrando três ofertas imperdíveis na Livraria Cultura e fiz um acordo com ela: se eu me “segurasse” em Salvador, poderia comprar esses três livros. Me segurei e comprei. Eles meio que entram na conta da Bienal, então aí vai a listinha de obras adquiridas:
“O lobo da estepe“, romance, Hermann Hesse; faz tempo que eu queria. Como saiu a edição de bolso agora, peguei logo, numa promoção “Compre 2 livros da BestBolso e leve 3” de um estande (os outros dois, “O diário de Bridget Jones” e “As melhores crônicas de Fernando Sabino”, foram presentes: um pra Cássia e outro para a Mila, respectivamente).
“Fantasma“, romance, José Castello; conheço o crítico mas não o escritor, daí a minha curiosidade em ler a ficção de José Castello.
“A mulher do mágico“, romance, James M. Cain; esse eu comprei porque M. Cain é autor de um romance bastante comentado, “O destino bate à sua porta“. Já tenho um livro dele aqui e vou comprar “O destino…” daqui a algum tempo, então pensei na possibilidade de futuramente dedicar um texto a esses três livros. Estava superbarato, não iria perder essa possibilidade.
“Ravelstein“, romance, Saul Bellow; alguém falou bem desse livro, não lembro quem. Coloquei ele numa outra lista de aquisições que tenho e quando o encontrei por 10 reais não pensei duas vezes, peguei logo.
“Descoberta ao amanhecer“, romance, Walter Veltroni; esse livro está encalhado até hoje na livraria daqui e eu volta e meia estava com ele nas mãos, mudando de um lugar para outro. Desde quando o vi fiquei interessado, mas certamente não o compraria se ele não estivesse por 3 reais.
“Murais de Vinicius e outros perfis“, perfis, Paulo Mendes Campos; PMC foi um dos quatro mineiros do apocalipse, junto com Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Otto Lara Resende. Acho que isso já serve de justificativa, né?
“Democracia“, ensaios, organizado por Robert Darnton e Olivier Duhamel; nunca ouvi falar no livro nem nos autores, mas gostei da proposta: ensaios que discutem aspectos variados da democracia como forma de governo. Preço bom, algo que certamente vai me servir.
Agora os três “extras”, via Livraria Cultura:
“O faz-tudo” e “O barril mágico“, romance e contos, respectivamente, Bernard Malamud; “O crime de Sylvestre Bonnard“, romance, Anatole France; eu sinceramente fui por instinto e porque todos os três fazem parte da coleção “Grandes Traduções”, da Record. Comecei a ler o de France e o início é algo perto da perfeição. Estou até pensando em transcrever aqui depois.
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