Sou um cara arrogante. Não parece, mas sou. E, se não parece, é por eu ser um cara bastante controlado e um bom ator. Ou seja: faço o máximo para não demonstrar minha arrogância. E tenho conseguido, graças a Deus, fazer o papel de um cara simples, gentil e muito sensato.
Quem conhece meu lado arrogante são meus amigos de verdade. Com eles me sinto muito à vontade, e aí posso ser arrogante, irônico, venenoso. Mas, você me pergunta, por que não ser assim o tempo todo? E eu respondo: você por acaso tolera alguém assim? Eu, não.
Odeio gente que destila arrogância gratuita. E lido com esse tipo de gente todos os dias, no trabalho. Não sei como conseguem isso. Tenho vergonha de ser arrogante com desconhecidos. Os outros, não.
A arrogância, assim como a ironia, deve ser usada com moderação, e em ocasiões especiais.
Há algumas semanas, quase discuti com uma conhecida por causa de um texto. Ela me enviou um texto e pediu uma opinião. Da maneira mais gentil e educada possível, tentei dizer que o texto precisava ser melhorado e que ele “corria” demais. Além de destacar um detalhe: ela elogiava, no texto, uma banda que não merece elogio algum. Mas isso eu falei brincando (apesar de a banda não merecer mesmo elogio algum). Ela tentou me convencer de que o texto estava legal, que a intenção dela era deixá-lo daquele jeito mesmo, que tudo foi proposital, que o texto não estava “corrido” e que a banda é boa.
Minha resposta foi a de que a impressão que tive foi aquela, eem vez de apenas comentar sobre os pontos que ela poderia melhorar, destaquei trechos e sugeri alterações.
Ainda assim, não chegamos a um consenso. E ela ainda dizendo que a banda é boa. Foi quando resolvi me valer de toda a arrogância que pude conseguir naquele momento. Afirmei, em vez de sugerir, que o texto dela foi escrito com pressa, não foi revisado devidamente, apontei mais falhas e disse que não estava falando aquilo por falar ou por achar, mas sim porque eu também escrevo, leio dezenas de textos por semana e sei quando um texto foi escrito com pressa ou não e quando ele foi revisado mesmo ou não. Simples assim. Somente depois de tudo isso foi que ela admitiu que realmente escreveu com pressa, não revisou com cuidado e que precisava melhorar algumas coisas.
Então, quando eu leio um livro, acho bom, digo pra todo mundo que o livro é bom e alguém diz que o livro não é bom, não dou muita trela. Eu sei quando um livro é bom e sei quando um livro é ruim. Não me perguntem como ou por quê sei: eu simplesmente sei. Talvez pelo fato de na faculdade ter sido aluno, em mais de uma disciplina, de três grandes professores – dois de literatura e um de análise do discurso. Talvez por simplesmente ter o “faro” apurado. Não sei. Ia dizer que talvez pelo fato de ter lido alguns dos melhores livros da literatura universal, mas isso não seria de todo correto. Tem gente que leu de tudo e diz que um livro bom é ruim – e vice-versa; geralmente essa gente não sabe justificar a própria opinião e se vale da opinião dos outros para justificar a própria. Que, se for parar pra ver, não é própria, é só um conjunto de opiniões de terceiros. É como Schopenhauer diz (não com estas palavras): o cara lê tanto que não tem tempo pra pensar, refletir e tirar as próprias conclusões.
É por isso que quando acontece de alguém discordar de mim a respeito de um livro, não me resta muito a fazer, a não ser lamentar. Fico um pouco chateado, até, mas consigo levar numa boa.
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