Apanhador Só

Volta e meia sai coisa boa lá do Rio Grande do Sul. Nos últimos meses tive contato com novas bandas de rock de lá, sendo uma delas a Apanhador Só, formada em Porto Alegre, que lançou seu primeiro disco recentemente, em abril deste ano.

Misturando rock, indie e pop, a Apanhador Só é uma grande surpresa num tempo em que o “chimbalayê” e o “na na na” dominam a MPB e o pop/rock brasileiro. O álbum recém-lançado, que leva o mesmo nome da banda, é certamente uma das melhores estreias musicais dos últimos anos. Artisticamente falando, esse disco é superior ao primeiro do Los Hermanos, por exemplo. Comparando com a trajetória da banda carioca, não seria exagero dizer que “Apanhador Só” estaria no mesmo nível de “Bloco do Eu Sozinho” ou “Ventura”, no que se refere às melodias, que são muito bem elaboradas. Assim como os Hermanos, os gaúchos não se restringem às influências batidas do indie-rock e vão além: o ritmo de forró arrastapé marca presença, ainda que tímida, em “Maria Augusta”; já em “Balão-de-vira-mundo”, a referência é ao tango argentino.

Quanto às letras, há um pouco de nonsense e humor em algumas músicas da Apanhador Só, como em “Peixeiro” (“Peixeiro sem pegada é sushiman/ Sei muito bem que não se encontram japoneses em Belém”) e em “Jesus, o padeiro e o coveiro” (Um gritou ‘Salva!’/ E levou uma sova/ Outro gritou ‘Sova!’/ E não levou nenhum crédito/ na hora da multiplicação”); há também composições mais sérias, como “Nescafé” (“Almoço minha angústia/ e tu ri com a cara na tv/ Eu tomo um conhaque/ e tu fala em ter bebê”), e românticas, como “Bem-me-leve” (“Fazer tu perceber/ que sem eu aí não tem ninguém pra te aquecer”).

A Apanhador Só dá início hoje a uma série de shows em São Paulo, passando por Presidente Prudente no dia 08 (sábado). Quem puder conferir o grupo ao vivo, é uma boa pedida, e a agenda deles pode ser consultada neste link. Para quem não pode, recomendo baixar o álbum, disponibilizado para download gratuito. Aliás, o Apanhador Só é um bom exemplo de como um artista pode tirar proveito da internet. Eles estão no Facebook, no Twitter, no MySpace e no Orkut. (Todos os perfis e comunidades estão lincados no site oficial da banda.) O fato de colocar as músicas para download não elimina a possibilidade de ouvintes quererem comprar o disco físico. Eu, por exemplo, não vejo a hora de poder adquirir o meu.

Abaixo vocês conferem uma pequena entrevista realizada por e-mail com o vocalista e guitarrista da Apanhador Só, Alexandre Kumpinski.

Quando a banda foi formada? Como isso aconteceu? Vocês já eram amigos?

O embrião da banda surgiu ainda na época do colégio, quando tínhamos 15, 16 anos. Éramos amigos, colegas de turma. Tocávamos cover de Beatles, The Who, Strokes e umas versões malucas de músicas do Chico Buarque com um power trio de baixo, guitarra e bateria. Depois começamos a compor nossas próprias músicas e a formação da banda foi mudando gradualmente. Entrou a Carina Levitan fazendo a percussão-sucata, depois o Felipe Zancanaro na segunda guitarra e alguns membros foram saindo, entrando e voltando conforme o andar da carroça [hoje a banda é composta por Alexandre Kumpinski, voz e guitarra; Felipe Zancanaro, guitarra; Fernão Agra, baixo; e Martin Estevez, bateria]. Em abril de 2006 a gente lançou o nosso primeiro EP, o “Embrulho pra Levar” que meio que marca o nosso início como uma banda autoral, com uma cara mais própria, deixando os covers pra trás e começando a fazer shows pela cidade.

Quais as influências do grupo? Em certos momentos, é quase impossível não lembrar do Los Hermanos, ao ouvir vocês. Longe de querer comparar, mas há alguma influência da banda carioca sobre Apanhador Só?

Existe essa influência sim. Éramos adolescentes quando eles lançaram “O Bloco do Eu Sozinho” e o “Ventura”. É certo que a liberdade musical que eles jogaram na música pop brasileira, com essa mistura moderna de MPB (seja lá o que for MPB) com rock (seja lá o que for rock), nos deixou instigados e nos mostrou que também poderíamos criar à vontade, misturando influências ao sabor do vento. De qualquer modo, não é nossa intenção parecer Los Hermanos, porque não nos interessa parecer com uma coisa só, não é o que buscamos. Deixamos que tudo o que nos bate nos ouvidos se permita virar influência. Mas é fato que eles fazem parte das nossas referências, e, além disso, é fato que temos referências comuns às deles na nossa formação.

O quanto as redes sociais e o download gratuito do álbum têm ajudado na popularização da banda? Já dá pra ter uma ideia?

As redes sociais e o download gratuito têm sido a mola mestra na divulgação da banda. A gente já percebe isso pelos números: até ontem [26/04/2010], em 15 dias de disponibilidade do disco no nosso site oficial, estávamos prestes a alcançar os 3000 downloads. Isso sem contar os downloads nos links alternativos que algumas pessoas já criaram por conta própria. Isso já é o triplo do número de discos físicos que a gente mandou fabricar e que provavelmente demoraríamos muito mais pra escoar se não disponibilizássemos ele na internet. Inclusive, nas estatísticas do site a gente pode ver de onde se originaram os acessos, e a maioria deles veio do Twitter, do Orkut ou do Facebook, a partir de pessoas que divulgam espontaneamente a banda simplesmente porque gostam da música. E essa divulgação é linda, a mais linda que existe.

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