Acredito que cada um tenha uma lembrança marcante do dia 11 de setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas do World Trade Center foram alvo do talvez mais assombroso ataque terrorista da história da humanidade.
A minha é a de estar dentro do carro, em frente a uma agência bancária, aguardando meu tio sacar dinheiro. Ele, que na época morava no Rio, veio nos visitar não lembro por qual motivo. Ouvi a notícia no rádio e, a princípio, não acreditei.
Quando chegamos em casa, a TV confirmou o que eu torcia para ser um engano do radialista. Os Estados Unidos estavam mesmo sob ataque.
Essa lembrança de estar na frente do banco é a que tenho mais clara em minha mente. Mas me lembro de, durante o restante daquele dia, e de todos os outros que imediatamente o sucederam, fazer constantes pesquisas na internet sobre o assunto, além de tentar acompanhar o máximo que podia sobre a cobertura dos fatos.
Fiquei tão impressionado com aquilo que pelo menos durante uma semana só conseguia pensar no assunto. Lembro de ter reunido, no HD do computador hoje jurássico que tínhamos, um bom material jornalístico sobre o 11 de setembro. Poucas vezes vi tantos profissionais envolvidos numa cobertura factual. Porque não eram apenas jornalistas que dela participavam, mas também historiadores, líderes religiosos, intelectuais, pilotos de aeronaves, enfim, especialistas das mais diversas áreas.
Na verdade, eu estava hipnotizado tanto pelo acontecido quanto pelo que veio depois. E, por mais que tente, não consigo explicar aquela sensação. Anos depois, na Flip de 2007, assisti à mesa que reuniu Robert Fisk, talvez o maior jornalista de guerras que já passou pela face da Terra, e Lawrence Wright, autor de “O vulto das torres”, livro sobre o 11 de setembro que ganhou o Pulitzer de não-ficção de 2007. Ao falar sobre sua reação aos atentados, Wright verbalizou o que deve ter acontecido com todo jornalista naquele dia. Lembro de ele ter dito que, mesmo abalado com a notícia, começou a “trabalhar”: deu telefonemas, fez pesquisas na internet, procurou saber o que a TV e o rádio estavam falando sobre o assunto.
Fiquei muito emocionado ao ouvir o depoimento de Wright. Porque, até o dia 11 de setembro 2001, eu tinha 18 anos e estava ainda meio sem saber que rumo tomar na vida. E aquele foi justamente o dia em que decidi ser jornalista. Se não fiz o curso ou se enveredei pelo jornalismo cultural, são outros 500, mas naquele dia, lá em Parati, veio a confirmação de que havia tomado se não a decisão correta, ao menos a mais próxima do acerto.
Passados nove anos daquele dia terrível, fica a lembrança das imagens tristes e lamentáveis, mas também a estranha sensação – em momento algum reconfortante; pelo contrário, até repugnante – de que, não fosse aquela tragédia, eu não estaria colocando o ponto final neste texto agora.
* Post escrito em silêncio. Crédito da imagem: The McNewspaper.