“Muito antes de estarmos juntos eu já havia lido os poemas de Bandeira nele (ou por ele) inspirados. E a crônica ‘O Místico’, a propósito de sua partida para Londres. E a ‘Nova Gnomonia’, sobre sua classificação de todos os seres humanos em cinco categorias. Schmidt já me falara das ‘noivas de Jayme Ovalle’, não só através de seu belo poema, mas pessoalmente, contando casos pitorescos com ele vividos em noites de boemia na Lapa. Já ouvira de Di Cavalcanti as suas histórias de Paris. Conhecia Azulão, Berimbau, Modinha, sabia de sua fama de músico e poeta. Mas era ainda um mito, de contornos imprecisos, cuja existência eu atribuía a em parte à imaginação criadora de seus amigos.
Até que vim conhecê-lo pessoalmente – e foi um impacto para a minha vida. Nosso convívio diário durante quase três anos, morando a princípio no mesmo hotel em Nova York, era um deslumbramento permanente para a minha sensibilidade. Bebíamos juntos todas as noites, almoçávamos juntos todos os dias, e embora a diferença de idade entre nós fosse de mais de trinta anos, éramos como dois velhos amigos.
(…)
Vinicius acaba de me telefonar da Bahia. Peço-lhe que me defina Jayme Ovalle, e ele me responde imediatamente:
– É o poeta em estado virgem. A mais bela crisálida de poesia que jamais existiu, desde William Blake. É o mistério poético em toda a sua inocência, em toda a sua beleza natural. É vôo, é transcendência absoluta. É amor em estado de graça.”
Trechos da crônica “Um gerador de poesia”, de Fernando Sabino, homenageando Jayme Ovalle. Na foto, Jayme Ovalle, Otto Lara Resende e Vinicius de Moraes.
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