Você já foi seduzido por um livro? Eu já. Por vários livros. Tentarei explicar mais ou menos como acontece.
Se a sedução acontece em uma livraria física, são duas as opções. Pode ser à primeira vista ou não. É mais interessante quando não é. Porque é uma sedução gradual, que vai aumentando. Você passa e vê o livro, mas não chega a folheá-lo. Nesse primeiro momento você não vê nada de mais nele. A capa atrai um pouco a sua atenção, mas não a ponto de você interromper sua trajetória para vê-lo mais de perto.
Então, em uma segunda ocasião, você se depara com o mesmo livro. Ele está no mesmo lugar onde estava na última vez em que você esteve na livraria. Por isso, você não dá muita atenção. Ele está no meio do seu caminho, não teria como você não ver o livro. Nada aconteceu, ainda.
Então você retorna à livraria uma terceira vez, e o livro não está mais no lugar de sempre. Você não o vê, não lembra mais dele. Ao caminhar para a saída da loja, você vê o livro, quase que escondido, entre outros títulos. Você resolve folheá-lo. A capa é muito bonita, os dizeres da orelha são atraentes, mas, como você sabe, não se pode confiar em capas bonitas e orelhas elogiosas. Além disso, você não conhece o autor. Nenhum de seus amigos literatos recomendou que você o lesse. É muito provável que eles também não o conheçam. Você fica com o livro nas mãos por alguns segundos, enquanto pensa em tudo isso. Você sente o peso do livro, sente a capa, abre-o para sentir o cheiro. Você o compra, enfim. Se é bom ou não, só você é quem vai dizer.
O outro caso, o da sedução à primeira vista, muitas vezes rende bons frutos, mas, ao menos comigo, não funciona muito bem. Não guardo boas lembranças dos livros que comprei em ímpetos incontroláveis. Foram quase todos livros ruins. Na minha opinião, claro.
Voltando à sedução gradual, bem melhor e proveitosa, ela pode acontecer virtualmente, também. E, neste caso, é um tanto pior, pois você não tem o livro em mãos para folhear. Mas a sedução virtual pode ser bem mais interessante e cercada de coincidências e acasos.
Meses atrás, navegando no site da Companhia das Letras, vi a capa e uma breve sinopse de dois livros que seriam lançados, de um autor que não conhecia até então. Os livros: “Esta história” e “Seda”. O autor: o italiano Alessandro Baricco. A capa de “Esta história”, mais precisamente, chamou minha atenção. Lembro que gostei muito dela. E eu, já disse isso outras vezes, gosto muito de belas capas de livros. É quase um fetiche.
Namorei o livro por algum tempo, gosto de ler coisas novas, autores que não conheço, livros que ninguém me recomendou. Li uma sinopse um pouco maior, mas o tempo foi ficando cada vez mais curto e acabei não comprando o livro. Não li mais nada sobre ele. Recentemente, encontrei o “Seda” na livraria, mas não vi o “Esta história”.
Qual não foi a minha surpresa ao receber, no meio de uma leva de livros do Digestivo, o romance “Esta história”. Todo aquele ritual de pegar o livro, sentir o peso, o cheiro, ler a orelha, passei por tudo isso aqui em casa mesmo. E – por favor, não riam, é sério – senti algo diferente enquanto estava com o livro em mãos. Não sei, mas tenho a impressão de que será uma boa leitura, no mínimo.
Sobre a capa, eu bem desconfiava. Foi feita pela Mariana Newlands, de quem já falei aqui.
Infelizmente, “Esta história” não é leitura para agora. Há muita coisa acumulada, ainda. Mas fica aqui a dica, pelo menos para uma folheada.
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