Até pedi para meu irmão gravar o áudio do programa, achei que fosse precisar citar algo aqui. Mas nem.
A sensação que tive foi a de que não prepararam muito bem o Jô. A indignação pura e simples não é argumento. Ou seja: não adianta estar danado da vida com algo ou alguém, é preciso ter argumentos consistentes contra quem quer ou o que quer que seja. Ao menos se você é um apresentador de tevê e está entrevistando um deputado que disse estar se lixando para a opinião pública e que foi/é acusado de uma série de “desvios de conduta”, para não dizer “crimes”.
Jô estava munido de uma “pastinha” que listava quatro processos movidos contra Sérgio Moraes. Mas Jô não soube explicar quais eram esses processos. O deputado disse que, na verdade, não são quatro, mas sim dois, e se o que ele disse é verdade, realmente ele não tem o que temer: suas justificativas são plausíveis e inquestionáveis.
A produção do Jô fez um “bate-bola” com alguns cidadãos paulistas, todos demonstrando indignação em relação à frase proferida pelo deputado. Depois disso, Sérgio Moraes mencionou uma pesquisa feita em sua cidade, Santa Cruz do Sul, em que, numa espécie de votação organizada pela equipe do Fantástico no centro da cidade, 54% das pessoas que votaram apoiavam o deputado. Pior: ele afirmou que essa pesquisa não foi ao ar. E pior ainda: Jô Soares não sabia disso – ou fez de conta que não sabia. Erros primários que o Jô, macaco velho que é, não poderia deixar passar. Ele precisaria se antecipar a tudo isso.
A famosa frase, Sérgio Moraes explicou, foi “dita dentro de um contexto” e foi, também na opinião dele, distorcida pela imprensa com intenção de prejudicá-lo. Mas o que vem depois da “maldita” (palavra dele) frase é mais absurdo ainda: “Estou me lixando para a opinião pública. Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Nós nos reelegemos mesmo assim.”
E disse mais: “Mas vocês [a imprensa] publicam só uma parte, só para enrabar a gente.”.
A questão ultrapassa a esfera política e entra no âmbito da credibilidade de informação. Seria necessário que rádios e tevês disponibilizassem as declarações do deputado na íntegra, para que não houvesse dúvida. Como fez a rádio Globo, por exemplo, que deixou no ar para quem quiser ouvir um bate-boca “felomenal” entre Sérgio Moraes e o radialista Roberto Canázio.
As explicações que o deputado deu ao Jô fazem sentido, mas isso não significa que elas sejam verdadeiras. E eu não acredito nele. Estou me lixando para as explicações. Para mim, tudo não passa de conversa fiada.
Ao dizer bobagens como as que destaquei neste post, Sérgio Moraes nos agride duplamente: primeiro, dizendo que somos insignificantes, já que ele se lixa para a nossa opinião; segundo, dizendo que somos burros, porque acreditamos em tudo o que a imprensa publica. E nós não podemos permitir isso. Espero que nas próximas eleições essas coisas sejam corrigidas.
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