Não seria exagero dizer que Ayrton Senna foi o maior ídolo esportivo que o Brasil já teve. Pelé é o rei do futebol, o maior jogador de todos os tempos, mas a morte trágica de Senna, em 1994, quando tinha 34 anos, fez com que ele se tornasse um mito. E, para alguns, o maior esportista brasileiro.
É curioso, portanto, que até o momento, 16 anos após sua morte, não tenha sido feito, por uma equipe brasileira, um documentário sobre o ídolo. Algo inexplicável, ainda mais sabendo que a Rede Globo, emissora que faz a cobertura da Fórmula 1 há mais de 30 anos, tem um material riquíssimo de imagens.
Coube aos ingleses, grandes fãs de automobilismo e, consequentemente, grandes admiradores de Ayrton Senna, realizarem o mais badalado documentário sobre o piloto, que estreou nos cinemas no final de 2010 e que recentemente chegou às lojas em formato DVD e Blu-ray.
“Senna”, dirigido pelo britânico Asif Kapadia, tem sido um sucesso de público e de crítica: muito bem editado, as imagens antigas parecem ter sido melhoradas – em um processo que deve ser semelhante ao da remasterização de discos –, e a produção conta com a colaboração de pessoas muito próximas a Ayrton, como o comentarista da Rede Globo Reginaldo Leme e de Viviane Senna, irmã do piloto, além de trazer imagens pouco vistas pela maioria dos espectadores, como trechos de reuniões entre pilotos e organização de provas, antes das corridas.
Mas a verdade é que uma vida tão intensa e cheia de nuances como foi a de Ayrton Senna nunca será razoavelmente coberta por documentários com menos de duas horas de duração. Para tanto, seria necessário, no mínimo, uma produção dividida em dois discos de duas horas cada.
Ficaram de fora, por exemplo, imagens de Senna tentando pular a grade do hospital em que foi parar Rubens Barrichello, depois deste se acidentar no treino para o trágico Grande Prêmio de Ímola, de 1994, um dia antes da morte de Ayrton; a carona que Nigel Mansell deu a Senna no GP de Silverstone, na Inglaterra; e um maior destaque para fatos como aquela clássica imagem de Senna parando o carro, em plena corrida, para verificar a situação de um piloto acidentado, e sua extraordinária vitória no autódromo de Interlagos, em 1993.
Apesar disso, “Senna” relembra – ou revela, para quem não acompanhou sua carreira – situações que marcaram indelevelmente a trajetória do piloto brasileiro, como sua maestria ao dirigir na chuva; seu enorme e surpreendente talento – que o fez ser campeão de Fórmula 1 com apenas 4 anos de categoria, num tempo em que a qualidade do carro influenciava, sim, mas o fator mais importante era o piloto –; sua relação tempestuosa com outro grande piloto, o francês Alain Prost, um dos “vilões” do filme; sua determinação em vencer, sua fixação em ser o melhor e sua paixão por correr.
Emocionante e muito bem realizado, “Senna” é um filme para ser visto pelos que, entre os anos 1980 e 1990, acordavam cedo aos domingos para assistir às corridas de Fórmula 1, na esperança de que a bandeira brasileira fosse mais uma vez erguida por Ayrton, no pódio, e, principalmente, por aqueles que não viveram aquela época e não têm noção do que Ayrton Senna representa não apenas para o Brasil, mas para todo o mundo.
Nota: já que o cinema daqui não exibiu o filme, coube a Cassia, minha bem-amada, me presentear com o DVD de “Senna”. Por isso, mais uma vez, meu muito obrigado a ela.
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