Se Maomé não vai à montanha, a montanha vem a Maomé

Apesar de querer ir ao Maranhão conferir o clima político de lá, não tenho condições financeiras para fazer isso. Mas, como diz o ditado que intitula este post, tive a sorte de encontrar o Flávio Luís, que mora lá e comentou o post. Depois do comentário, conversamos por email e, como as informações que ele me passou são bem úteis para entendermos um pouco a situação política do estado maranhense, pedi sua autorização para publicar, como post, seu comentário e as declarações que ele me fez por email. Meus agradecimentos públicos ao Flávio e aí vai o comentário dele.

Sou de São Luís/MA e posso te garantir que ambos os governos bebem da mesma fonte podre. A única diferença está no fato da família Sarney ter dominado o cenário político maranhense por décadas e por isso possuir uma maior notoriedade de seus atos corruptos. Quanto ao seu “domínio” sobre a imprensa local, também é de conhecimento público que existem relações de parentesco entre os donos dos principais meios de comunicação do Maranhão e a família Sarney. No entanto, toda a imprensa “dominante” do Maranhão está vinculada a grupos políticos, de modo que praticamente não existe uma informação independente. Ao comprar um jornal você já sabe que ele irá apontar sempre na defesa do grupo que o financia, sem se importar com a busca da “verdade” dos fatos.

Para resumir bem a situação posso te dizer que, a população maranhense – principalmente do interior, em razão do péssimo nível de educação nas escolas, isso quando elas existem – é formada por uma grande maioria de analfabetos funcionais, gente de pouquíssima instrução, e sem nenhum senso crítico mais apurado acerca da política. Em muitos casos são populações já acostumadas com certas práticas políticas no mínimo imorais, e é sobre essas bases que os grupos constroem suas vitórias eleitorais.

A forma como isso é construído pelos principais grupos políticos do Estado (independente dos nomes), deixo ao critério das mentes curiosas e críticas… Digo apenas que minha sensação, enquanto cidadão do Maranhão, é a de que o TSE mostrou apenas a ponta de um iceberg que todos sabem que existe, ao mesmo tempo em que brincam de faz de conta para o jogo não acabar. Mas isso já entra numa questão ainda mais delicada e complexa chamada Política Brasileira e seus meandros cheios de falhas, imoralidades e corrupção.

Esse aí foi o comentário do Flávio. Por email lhe fiz algumas perguntas:

Então quer dizer que tanto Jackson Lago quanto os Sarney não valem nada? Hoje vi o Lago dizendo que ele fez mais de uma centena de escolas e tal… É verdade? Não houve avanço nenhum com o governo dele? Melhora alguma? Qual a fama dele aí? Rouba mas faz? Ou só rouba mesmo?

Reparem na paciência, cordialidade e sobriedade do Flávio ao responder a saraivada de perguntas que lhe fiz:

Segundo o meu ponto de vista, o Maranhão ainda precisa de uma política que realmente venha a romper com os vícios existentes nos govenos passados. Por enquanto, o que vemos são discursos falsamente revestidos de um caráter libertador – mas se necessita bem mais do que uma mera alternância formal de nomes num governo para se “libertar” um Estado…

Quanto a construção de escolas e outras informações, a gente sabe que todo político sempre fala a mesma coisa, isso é impressionante. Se ao menos metade das coisas que eles falam que fizeram fossem verdadeiras todos nós viveríamos num paraíso terrestre. É o caso daquela famosa frase que agora não me recordo de quem é, mas que sabiamente diz que os políticos sempre falam verdades para expressar mentiras. Ele talvez até tenha construído escolas, talvez tenha alguma estatística – a puta das provas, uma das mais manipuláveis -, mas o que percebemos enquanto cidadãos é que nada de substancial mudou em seu governo.

Cara, como te falei, o povo maranhense ainda é muito deficiente no tocante a uma educação crítica, por isso suas opiniões geralmente são influenciáveis por argumentos vagabundos, simplórios, e que costumam provocar algum efeito nas massas.

Acredito que muitos dos eleitores de Jackson estão descontentes com seu governo, pois de fato não se percebeu grandes mudanças além de discursos vazios. Embora também não se possa dizer que estamos contentes com o retorno de Roseana. Nesse sentido, sinto uma sensação de descrença política por parte de algumas pessoas que conservam uma visão mais independente. Mas, como te falei antes, estamos falando de uma população carente, e muito frágil sob ponto de vista da manipulação ideológica. Essa é uma questão seriíssima em nosso Estado, e enquanto isso continuar não consigo enxergar uma grande mudança no Maranhão. Agora o problema, Rafael, é que isso é o ciclo vicioso. Quer dizer, como alterar esse cenário com uma educação que não é levada a sério?

Se não podemos chegar a uma conclusão inquestionável sobre a situação política do Maranhão – apesar de que, segundo o Flávio, a coisa lá tá ruim mesmo, como em todo o Brasil -, ao menos uma conclusão definitiva podemos tirar: educação de qualidade é fundamental. Enquanto este país não tiver um sistema educacional decente, não vamos sair disso. Se damos um passo adiante em algum setor, com certeza há um passo para trás em outro, e tudo fica na mesma, as pioras anulam as melhorias e engessam o Brasil.

E me deixa um pouco triste ver que as pessoas, na internet, não demonstram preocupar-se com questões políticas, sociais e econômicas. Conheço pessoas que têm muito conhecimento histórico e político e que certamente poderiam dar boas opiniões em seus blogs, mas não o fazem. Pois deveriam fazer, deveriam opinar, protestar. Talvez se houvesse mais “manifestações internéticas políticas”, digamos assim, isso evoluísse para ações mesmo: protestos, eventos em universidades etc., coisas que certamente surtiriam algum efeito no Brasil, mesmo que pequeno.

É uma pena que os jovens que poderiam ser revolucionários estarem assistindo a vídeos engraçados no YouTube neste exato momento.

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Em tempo: Jackson Lago deixou ontem o palácio do governo do Maranhão.

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