Pose de escritor

Tenho lido ultimamente algumas pessoas dizendo, em blogs e também no Digestivo, que levam às vezes um dia inteiro tentando escrever. Ou mesmo dias inteiros, seguidos, tentando escrever uma coisa. Não é que eu duvide de ninguém, porque o trabalho do escritor não é fácil, realmente.

O que me deixou encucado foi o aparente exagero por parte de alguns. Porque, ao que me consta, nem mesmo os escritores brasileiros mais aclamados e experientes conseguem viver apenas de sua própria ficção. A maioria deles tem outros trabalhos – alguns até envolvendo literatura, imaginem! -, e é dessas outras atividades que vem a maior parte do sustento.

Então, muito me admira pessoas das quais nunca ouvi falar dizerem que se ocupam tanto escrevendo. E aí perguntei a mim mesmo: esse povo não trabalha?

Parece coisa de alguém que não tem o que fazer, mas não é. Confesso que é até meio idiota eu vir aqui no blog, quase às duas da manhã, gastar tempo e verbo com um “problema” desses, mas preciso dar à minha mente alguma outra coisa para fazer que não pensar em leituras, entrevistas, textos e processos (sim, processos, mesmo, fazem parte de minha rotina agora).

Eu, sinceramente, não passo mais de duas horas tentando escrever uma resenha, por exemplo. Se nesse tempo eu não iniciá-la e ela não deslanchar, pulo fora. Vou ouvir música, comer algo, ler um livro, assistir algo, sei lá, andar. Só não vou é ficar parado na frente do pc, parecendo uma múmia, esperando algum santo baixar e psicografar o texto.

Daí penso que muitas dessas pessoas, na verdade, ou estão enganando os outros ou estão enganando a si mesmas. Porque, se passam dias inteiros tentando escrever e não conseguem, já passou da hora de tentarem seguir uma outra carreira ou arrumar alguma coisa pra fazer. Me parece que já não se pode mais dar milho a pombos, mas há outras atividades interessantes, como ler, por exemplo. Em vez de ficar tentando, sem sucesso, escrever, que tal ler algo que valha a pena? Melhor do que ficar olhando para a página do caderno em branco ou para a tela vazia do Word.

E se elas apenas dizem que passam dias inteiros tentando escrever quando na verdade não fazem isso, estão apenas fingindo serem “escritores atormentados”. Ou seja: estão posando de escritor. Porque, hoje, como vocês sabem, qualquer garota que saiba falar uns 20 palavrões e assistiu a uns 10 filmes proibidos para menores de 18 anos pode escrever qualquer bobagem e dizer que é um livro; qualquer cara que tenha tomado uns bons porres e viva na boemia pode escrever umas historinhas tortas e dizer que são contos.

Difícil entender essa coisa do glamour de ser – perdão, de fingir ser – escritor. Parece que há, em algumas pessoas, uma vontade irracional de ser artista. E como ninguém tem dinheiro pra comprar uma guitarra, ou tem uma vozinha ridícula, ou não sabe desenhar nada que preste, dizer que é escritor é muito mais fácil e barato, porque basta papel e caneta.

E aí voltamos ao post abaixo. Mais precisamente, ao Paulo Coelho. Justo ele, que tanta gente critica, é muito mais escritor do que uns 50 pseudoescritores-brasileiros-com-livros-publicados. Não estou aqui defendendo os livros dele, nem colocando em xeque a sua qualidade, só estou dizendo o seguinte: o Paulo Coelho não fica por aí posando de escritor. Ele escreve as coisas dele e as publica. Não é isso que um escritor deve fazer? Pois. Parem de falar que escrevem. Escrevam.

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