Gosto de ter liberdade. É por isso que, por exemplo, este blog, apesar de teoricamente se ater à literatura, não tem posts somente sobre o mundo dos livros. Porque o blog, de certa forma, é um espelho de seu autor, um cara que tem interesse por uma quantidade enorme de assuntos.
E aí não posso fazer coisas do tipo: “segunda-feira vou postar sobre música; terça, sobre filmes; quarta, sobre livros” etc. O que me traz um problema, claro, porque quem acompanha fica meio perdido com as mudanças bruscas de assunto. Mas me traz a vantagem de não ficar preso a um modelo, a uma rotina.
Ainda assim, tenho pensado em escolher um dia da semana para postar dicas aleatórias de livros que não tenho ou tenho e não li ainda, mas que, na minha opinião, valem a pena no mínimo serem folheados na livraria. Apesar de uma das minhas maiores diversões ser justamente ficar olhando os livros a esmo na loja física ou nos sites, até que algum me chame a atenção e eu resolver ler mais sobre ele ou folheá-lo.
Mas, claro, nem todo mundo é como eu, e tem gente que gosta de ter umas dicas de livros para dar uma olhada etc. Talvez seja pretensão minha justamente eu dar essas dicas, não porque menospreze minha própria opinião – muito pelo contrário: quem lê um livro indicado por mim geralmente não se arrepende, porque meu gosto literário é mesmo bom -, mas porque minha vontade é me ater apenas a livros que, repito, não tenho ou tenho e ainda não li.
Como assim?, você pergunta. Ora: tenho um faro aguçado para livros, palavra de honra. Costumo me interessar por livros que são realmente bons e valem a pena cada centavo gasto – ou cada minuto gasto, no caso de exemplares que recebo direto de editoras ou autores. Portanto, que mal faria eu em indicar livros para serem simplesmente folheados?
Então, aproveitando que ontem recebi alguns exemplares, coloco em prática a minha ideia neste post. Caso alguém goste ou não goste da iniciativa, é só comentar.
A mulher da minha vida, de Carla Guelfenbein -> Primeiro eu gostei do título. Porque é legal, não? É uma frase que uso de vez em quando – Cássia a ouve vez ou outra, com um “você é” antes. A capa é bonita também, e essas coisas me fizeram ler um pouco mais sobre o romance e sobre a autora. Que é chilena. E, oh, é preciso valorizar a literatura latino-americana. Que, aliás, estive pensando, deve ser bem superior à literatura norte-americana. Mas, enfim, o livro tem como personagens principais Antonio, Theo e Clara, que na década de 80 formaram um triângulo amoroso – dos três, Antonio e Clara são chilenos; Theo é inglês. Eles se conhecem na Inglaterra – Antonio vai para lá exilado, e Clara é filha de um exilado. Quinze anos depois, eles se reencontram no Chile, e o resto eu não sei. Sei é que “A mulher da minha vida” foi o livro mais vendido em 2005, em terras chilenas, e eleito por um jornal de lá como o melhor romance daquele ano. Já vale a folheada, não?
Pobre George, de Paula Fox -> A história de Paula Fox é curiosa. Pra resumir bem – até porque é só o que sei -, ela nasceu em 1923, mas só aos 43 anos estreou como escritora. Segundo livro da autora publicado no Brasil – o outro é “Desesperados”, também um romance – “Pobre George” é protagonizado por, claro, George, um professor de inglês “insatisfeito com sua vida e seu casamento”, e tem sua vida alterada por conta de um jovem chamado Ernest, “um voyer que costuma invadir as casas da vizinhaça por lazer”. É uma história inusitada e eu ando cansado de histórias batidas, por isso o interesse. Um tal Jonathan Lethem, na introdução do livro, diz assim: “O que quero dizer, ao dar voltas à minha mesa de trabalho tentando decidir o que lhe falar sobre ‘Pobre George’, é que o livro já faz parte de mim como uma pele”. E vocês precisam entender uma coisa: só no Brasil um escritor medíocre faz introduções ou prefácios de livros. É que, por aqui, a mediocridade é como se fosse capim, que está em todo lugar e pouca gente se incomoda com ele: só quando cresce um bocado é que resolve cortar. Então, mesmo sem saber quem é Jonathan Lethem, levo a sério suas palavras. Mas, pra agravar a situação e para que suas palavras soem mais pesadas, vejo agora que ele é autor de um romanção que ainda quero ler, chamado “A fortaleza da solidão” – belo título, tradução literal do original em inglês, “The fortress of solitude”.
Porque ela pode, de Bridie Clark -> Este caiu em minhas mãos por acaso e, ironicamente, foi o único dos três que realmente comecei a ler. Confesso que tenho um certo preconceito quanto a ficção “para mulheres”. Aquele negócio de “Melancia”, “Férias”, daquela Marian Keyes, só para ficar num exemplo. Mas é óbvio que pode haver livros bons neste nicho, é só uma questão de escolher com cuidado. Algum dia, quem sabe, eu leio algum da Keyes, mas por enquanto prefiro manter distância. Isso não me impede de tentar começar com algo menos pesado – no sentido de quilogramas, mesmo: os livros da Keyes são enormes! Justamente por isso resolvi tentar ler “Porque ela pode”, que começa com um casamento prestes a acontecer – ou a não acontecer -, mas que promete mesmo ser uma história divertida sobre o mercado editorial norte-americano, porque a protagonista, Claire, antes editora-assistente de uma editora, agora trabalha para uma outra editora, ganhando três vezes mais que o salário anterior. Mas, é claro, tudo na vida tem um preço, e o que Claire paga por esse aumento substancial é sua paz, porque a poderosa Vivian Grant, sua chefe, não lhe deixa em paz nem mesmo pouco antes do seu casamento – que não sei ainda se vai ser consumado ou não. Li as primeiras linhas do livro só mesmo para ver como ele tem início, mas fui indo, indo, indo… e já li quase 20 páginas. Isso em poucos minutos. Ou seja: parece ser o tipo de livro que você começa a ler e não consegue mais parar.
O livro de Dave, de Will Self -> Este eu não recebi. Sequer sabia que tinha sido lançado. Soube por acaso, há poucas horas, mas já nem lembro como. Will Self foi um dos convidados da Flip de 2007 e sua participação foi junto com Jim Dodge. Lembro de tudo muito bem porque, além de estar lá, a mesa se deu no dia do meu aniversário. Além disso, comprei um livro dele, “Cock&Bull”, só para pegar seu autógrafo – detalhe: comprei também “Fup”, do Dodge, só para pegar um autógrafo também, porque, desligado, não levei pra lá o exemplar que eu já tinha. Voltemos ao Self. Confesso a vocês que, apesar de ter três livros dele – os outros dois são “Como vivem os mortos” e “Os grandes símios” -, ainda não li nenhum. Mas por que gosto tanto do Self? Li partes destes dois últimos e gostei bastante. Além disso, sua participação na Flip foi uma das melhores daquela edição – e teve gente dizendo que foi uma das melhores de todas as Flips. É uma intuição minha: acho que Will Self é um autor que, daqui a alguns anos, terá me influenciado bastante. Espero ter “O livro de Dave” em mãos ainda este ano. Bem provável que eu o leia antes dos outros.
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