De cada cem crianças que nascem vivas na Guatemala ou no Chile, morrem oito. Morrem oito, também, nos subúrbios populares de São Paulo, a cidade mais rica do Brasil. Acidente ou assassinato? Os criminosos têm as chaves das prisões. Esta é uma violência sem tiros. Não serve para as novelas policiais. Aparece, congelada, nas estatísticas – quando aparece. Mas as guerras reais nem sempre são as mais espetaculares e bem se sabe que os relâmpagos dos tiros deixaram muita gente cega e surda.
A comida é mais cara no Chile que nos Estados Unidos: o salário mínimo, dez vezes mais baixo. A quarta parte dos chilenos não possui renda e sobrevive de teimosa. Os motoristas de táxi de Santiago já não compram dólares dos turistas: oferecem meninas que farão o amor a troco de um jantar.
O consumo de sapatos se reduziu cinco vezes, no Uruguai, nos últimos vinte anos. Nos últimos sete, i consumo de leite em Montevidéu caiu pela metade.
Os presos da necessidade, quantos são? É livre um homem condenado a viver perseguindo o trabalho e a comida? Quantos têm o destino marcado na testa desde o dia em que aparecem ao mundo e choram pela primeira vez? A quantos se nega o sol e o sal?
Eduardo Galeano, em um dos vários textos com o título de “O Sistema” (1976), no livro “Dias e noites de amor e de guerra” (1978), que eu pensei que não tinha, mas tenho.
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