Causou polêmica uma coluna de Daniel Lopes publicada semana passada no Digestivo. Nela, Daniel fala sobre um livro escrito por uma ex-secretária de Pablo Neruda. No livro, a ex-funcionária de Neruda relata fatos sobre o poeta chileno que o grande público desconhece.
Não conheço muito a obra de Pablo Neruda. Li alguns poemas, gostei deles. Chequei a comprar o “Cem sonetos de amor” – que emprestei pra um amigo, ele demorou de devolver e eu falei, depois de ele dizer “ô rapaz, teu livro tá lá ainda”, “ah, fica pra você” -, dei um outro de presente para Cássia, até com a intenção de ler depois, mas nunca fui um grande interessado em sua obra.
Na verdade, poesia, pra mim, é a literatura que você:
a) Lê para ficar inspirado e escrever um conto;
b) Lê para, depois de ter lido uns 10 poemas e começar a escrever um conto, lê mais 10 pra deixar a prosa mais bonita;
c) Lê para encontrar a metáfora perfeita pra encaixar num conto, romance ou novela;
d) Usa para conquistar uma garota, seja com poemas próprios – mesmo que ruinzinhos, as garotas gostam de serem musas e tal – ou livros de outros poetas;
e) Usa para dizer que leu mais livros que fulano e se dizer entendedor da obra de cicrano e das influências que fulano exerceu sobre beltrano.
Certo, estou brincando. Eu adoro poesia. Baudelaire, Rimbaud, Pessoa são os que mais admiro – mas, infelizmente, não li tanto quanto deveria – e, aqui no Brasil, recentemente descobri a poesia de Viviane Mosé, Caco Ishak, João Filho e Ana Rüsche – os quais li pouco, também, mas gostei muito do que li (ah, nem vem com “e Drummond? e João Cabral? e Vinicius? e não sei mais quem?”). Só que, mesmo gostando de poesia, tenho preferência – e vocês devem saber disso – pela prosa. Então, lendo uma boa prosa, soube que Pablo Neruda esteve no Brasil certa vez e, em tal ocasião, desentendeu-se com alguns escritores brasileiros, demonstrando – eu acredito na versão contada – não ser uma pessoa nem pouco razoável, além de muito arrogante.
Mas, é claro, não podemos deixar de ler um autor por causa disso, óbvio. Sua obra é o que vale. Eu até disse isso uma vez, não podemos esquecer.
Certo, certo. Mas, você me pergunta, por que estás dizendo tudo isso, ó, Rafael? Digo isso porque o pessoal, naquela ânsia furiosa das paixões ardentes ofendidas, desatam a fazer comentários parciais sobre o assunto. Colocam em primeiro lugar a admiração pelo poeta e esquecem que ele pode ter cometido erros, como qualquer ser humano. Um poeta fenomenal pode perfeitamente ser um crápula. Uma coisa não anula a outra.
Ou seja: dá pra continuar lendo a obra do rapaz, mas você não deve confiar nem seu casaco a ele. Não estou falando de Neruda, óbvio, que agora não faz mal mais a ninguém – muito pelo contrário: suas poesias devem ter aproximado e reconciliado centenas de casais ao redor do mundo. Estou falando de autores ainda vivos – vivos até demais, pro meu gosto – e que podem cruzar o teu caminho.
Literatos, sejam um pouco escoteiros: sempre alertas.
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