“B) Um escritor tem o dever e a obrigação de jamais ser compreendido por sua geração – ou nunca chegará a ser considerado um gênio, pois está convencido de que nasceu numa época onde a mediocridade impera. Um escritor sempre faz várias revisões e alterações em cada frase que escreve. O vocabulário de um homem comum é composto de 3 mil palavras; um verdadeiro escritor jamais as utiliza, já que existem outras 189 mil no dicionário, e ele não é um homem comum.
(…)
D) Um escritor entende de temas cujos nomes são assustadores: semiótica, epistemologia, neoconcretismo. Quando deseja chocar alguém, diz coisas como ‘Einstein é burro’ ou ‘Tolstói é o palhaço da burguesia’. Todos ficam escandalizados, mas passam a repetir para os outros que a teoria da relatividade está errada, e que Tolstói defendia os aristocratas russos.
(…)
H) Só existe um livro que desperta a admiração unânime do escritor e seus pares: ‘Ulisses’, de James Joyce. O escritor nunca fala mal deste livro, mas, quando alguém lhe pergunta do que se trata, ele não oconsegue explicar direito, deixando dúvidas se realmente o leu. É um absurdo que ‘Ulisses’ jamais seja reeditado, já que otodos os escritores o citam como uma obra-prima; talvez seja estupidez dos editores, deixando passar a oportunidade de ganhar muito dinheiro com um livro que todo mundo leu e gostou.”
Começando com a letra “A” e terminando com a “H”, Paulo Coelho faz uma lista do “que era ser um escritor, no início da década de 60”. Tirando o fato de “Ulisses” ter sido reeditado algumas vezes de lá pra cá (e mesmo assim acho que só umas três vezes, aqui no Brasil), o resto continua praticamente do mesmo jeito.
O restante do texto pode ser lido no livro “Ser como o rio que flui” (sendo mais específico, os trechos acima fazem parte do prefácio dele), que comprei ontem. Detalhe: tinha presenteado Cássia com um exemplar no mês passado, li o trecho que ele fala do “Ulisses” e naquele dia mesmo resolvi que iria comprar um pra mim também.
“Ser como o rio que flui” nada mais é do que a reunião de alguns textos do Mago originalmente publicados “em diversos jornais do mundo”, para usar as palavras dele. Tem como subtítulo “Pensamentos e reflexões”, e isso já basta para saber o teor do livro, certo?
Já vejo uma porção de gente torcendo o nariz para este post e vai ver até já teve gente fechando o blog e pensando em nunca mais entrar aqui. Paciência. Li “Diário de um mago” faz um bom tempo (em 2000, acho), mas lembro que gostei. Comprei “O Zahir” por livre e espontânea vontade, na época do lançamento, mas acabei não lendo – lerei ainda. E quero ler “A bruxa de Portobello” também, além de “O vencedor está só”. Não é nem por nada, mas quero ler. Este “Ser como o rio que flui” parece ser bem legal, com textos leves e que fazem refletir (como o que eu acabei de ler, “Marcado para morrer”, página 98; não tem sumário, o livro, bola fora da Agir).
Para quem tem a cabeça aberta e estiver disposto a deixar o preconceito de lado, taí uma boa dica de leitura.
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Outro que comprei, mas anteontem, foi “Pulp“, de Charles Bukowski. Último livro escrito por ele, finalizado alguns meses antes de sua morte, tem a seguinte dedicatória: “Dedicado à subliteratura”. Dizem que é muito bom, mas levarei algum tempo para comprovar.
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