Mais do que as vitórias, são as derrotas que trazem ensinamentos e reflexões. É quando as coisas dão errado que paramos para pensar no que fizemos, analisamos nossos atos e tentamos não repetir os mesmos erros.
Não é vergonhoso perder. Não há por que sentir-se menor por determinado objetivo não ter sido alcançado. Mas essas duas afirmações, embora iniciadas por um termo de negação, têm validade apenas quando a determinação em acertar, em alcançar uma meta é levada a sério.
A derrota que a seleção brasileira de futebol sofreu ontem para a seleção do Paraguai não seria tão vergonhosa se, nos últimos jogos, o time viesse demonstrando algum empenho, alguma qualidade que lembrasse, mesmo que vagamente, a tão referida – e agora tão distante – “magia do futebol brasileiro”. E, claro, se esse time não perdesse de forma tão bisonha e ridícula quatro cobranças de pênalti seguidas.
Fracassos e derrotas acontecem, e é preciso saber lidar com eles. A vida não é feita apenas de alegrias, de conquistas. Por mais que isso pareça autoajuda e por mais que seja um discurso batido, nunca é demais lembrar. Afinal, há sempre aqueles que se esquecem, ou que não sabem como reagir diante de um fracasso.
Até porque, como dizem, só não há jeito para a morte. Se algo não deu certo agora, pode ser que dê amanhã, daqui a uma semana, um mês, um ano. É preciso ter paciência e persistência – para seguir em frente -, e, mais do que isso, humildade – para reconhecer os próprios erros e aprender com eles.
Mas até agora uma palavra muito importante não foi mencionada. Ei-la: dedicação. Sem ela não se chega a lugar algum. É bem verdade que um pouco de sorte ajuda, e muito. Mas, sem dedicação, não há sorte que resolva.
Quando uma derrota vem apesar de muito trabalho e dedicação, o sentimento de fracasso não é – ou não deve ser – tão grande. Afinal, se você deu o melhor de si, se fez tudo o que estava ao seu alcance, a sensação que deve predominar é a de dever cumprido: sua parte você fez. Agora, se algo não dá certo por inatividade sua, por falta de afinco, a conversa é outra. Nesse caso, o fracasso pesa muito mais.
São por esses motivos que a derrota sofrida pelo Brasil ontem foi tão vergonhosa. Não pelo jogo em si – me refiro aos 90 minutos de tempo regulamentar e os 30 minutos de prorrogação, aos quais nem assisti -, mas pela grotesca disputa de pênaltis que veio depois.
É inadmissível, para um time de futebol com o material humano que tem o nosso, o desperdício de quatro cobranças de pênalti. Jogadores como Elano e Fred têm, por obrigação, que converter pênaltis. Ambos são líderes dos times nos quais jogam, são atletas que ganham muito bem e têm muito talento. É obrigação deles treinar pênaltis constantemente, buscando a aprimoração das cobranças.
Os casos de André Santos e Thiago Silva são um pouco menos graves. O primeiro nem na seleção deveria estar. O segundo, imagino eu, não está acostumado a bater pênaltis. E aí fica a pergunta: estavam ainda em campo Lúcio, Maicon, Ramires e Robinho. Por que eles não participaram das cobranças? Os quatro são muito mais experientes que os escolhidos por Mano Menezes para bater os pênaltis. Por que Mano os deixou de fora? Não tinham condições físicas?
Fala-se muito em “repensar a seleção brasileira” desde a saída de Dunga, após a última Copa do Mundo. Mas acho que a situação é mais grave: deve-se repensar o futebol brasileiro como um todo. O que está acontecendo com o esporte mais importante do país? O esporte que mais nos deu alegrias?
Não é apenas uma questão estrutural, de (falta de) organização. É também uma questão social e ética muito grave. O futebol brasileiro vem movimentando um volume absurdo de dinheiro, se formos comparar com o início da década passada. Jogadores e técnicos de futebol vêm sendo pagos com salários jamais vistos na história deste país. Até que ponto essa valorização é benéfica? Até onde isso vai levar nosso futebol?
Há muitas outras coisas a serem pensadas e repensadas, claro. A Copa de 2014 será no Brasil. Como sabemos, futebol não é apenas 22 jogadores disputando uma partida. Ele, assim como todo esporte, envolve muitas outras coisas. Uma Copa do Mundo, então, envolve coisas demais. No Brasil, então…
Temos menos de três anos para resolver os problemas da seleção brasileira e tudo o que for relacionado à Copa de 2014, inclusive questões de extrema importância para a realização do evento, como a construção e ampliação de aeroportos e estádios, bem como nossos eternos problemas de educação, saúde, segurança e transporte público – que já deveriam vir sendo resolvidos ou combatidos com mais afinco há muito tempo.
Retomando, para finalizar: o problema não é perder para o Paraguai. É perder vergonhosamente quatro cobranças de pênalti. O problema não é termos um país afogado em problemas, mas sim vê-lo nessa situação por culpa de políticos salafrários que desviam o dinheiro público sem nenhum pingo de vergonha. E pior: políticos que nós mesmos elegemos.
Esse é o problema.
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