Em algum estabelecimento comercial, um rapaz sobre o balcão preenche a ficha cadastral de um cliente.
– Qual a sua idade, por favor?
– Vinte e cinco.
– Puxa, é mesmo?
– Sim, metade de cinquenta.
– Rapaz, que coisa, vinte e cinco anos. Eu queria ter vinte e cinco anos. Deve ser sensacional, não? Qual a sensação?
– Olha, não dá para descrever. Nem o maior dos maiores escritores de todos os tempos saberia descrever a sensação. Nem o maior dos maiores cineastas, ou roteiristas. Nem mesmo o maior dos maiores autores de novelas conseguiriam isso. Aliás, nem mesmo o autor daquela novela dos mutantes que está passando agora, conhece? Nem mesmo ele teria palavras para descrever o que é ter vinte e cinco anos.
– Nossa…
– Quantos anos você tem, rapaz?
– Vinte e quatro.
– Olha, se prepara. É sério. Se prepara. Quando você fizer vinte e cinco… aliás, não falarei mais nada. Aguarde e verá.
– Ah, não, por favor, senhor, me diga! Me diga o que acontecerá quando eu completar vinte e cinco anos!
– Não, meu caro, aguarde e verá. Mesmo que eu soubesse o que dizer, você não acreditaria.
Certo, completei vinte e cinco anos, a metade de cinquenta. Não sou nem jovem nem coroa. Estou bem no meio, na corda bamba. Equilíbrio? Talvez.
Quer dizer, não. É hora de chutar o balde. Posso agora apontar o dedo na cara de qualquer escritor meia-boca e dizer “você é uma fraude, seu pseudo-escritorzinho-aspirante-de-merda”. Afinal, a idade permite. Antes dos vinte e cinco, diriam que eram palavras de um jovem inconsequente. Mas agora, não. Dirão que são palavras de um crítico em formação, ora essa.
Poderei também gritar com senhoras e senhores de até 50 anos. “O senhor é um fanfarrão! Isso aqui é uma livraria, não uma biblioteca! Zero Dois, cadê a vassoura, Zero Dois?” “Ô, ô, perua! É, é com a senhora mesmo que estou falando. Não educa seus filhos, não, é? Passa daqui, passa daqui!”
Bom, é claro que estou brincando. Mas não deixem de me dar os parabéns, valeu?
4 Comments